quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

TATEANDO SAUDADES




O milho colhido verde
Tem o sabor natural,
Presente da natureza
No plantio do quintal,
Sara qualquer estressado,
É um voltar ao passado
De um jeito fenomenal.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

LUTA & SABOR

O que nós realizamos
Nem sempre tem a beleza
Dos jardins que nós sonhamos,
Mesmo assim, tem a grandeza
De quem persiste lutando
No dia-dia enfrentando
A força da correnteza.

Por isso mesmo, regamos
Nossa plantação formosa,
Cada florzinha colhida
Vem de forma virtuosa
Nos trazer grande alegria,
E mesmo na correria
Fazer a vida gostosa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

EJA: um caminho para a cidadania











EJA é uma porta aberta
Para inclusão social,
A nossa modernidade
Só vê referencial,
Em quem tem conhecimento
E notório suplemento
Na parte intelectual.

Alguém que ainda não faz
Das letras combinação,
Aplicando dia a dia
Sua comunicação;
Não vê o mundo real,
Tem o olhar desigual
Por falta de interação.

O letramento é o sal
Da mente desenvolvida,
Rompendo os nós e os estorvos
Acumulados na vida;
É o Sol do alvorecer,
Pelos desejos de ver
Essa cegueira abolida.
  
Por isso é recomendável
Para o jovem ou o adulto,
Se ainda analfabeto,
Considerado um estulto,
A EJA será a saída,
O carimbo que valida,
Dessa sentença, o indulto.

É como se nos abrissem
Os olhos para enxergar,
Um jardim pela janela,
Raios de sol a brilhar,
Sem seguir passos medonhos,
Mas alimentando sonhos
De um novo tempo chegar.

E assim vou me despedindo
Revigorado e contente,
Apreciei vários rostos,
Com um olhar sorridente,
Decerto, já devem ter
Bom gosto no aprender
Ver o mundo diferente!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

SÁBIO RECOMEÇO

                                              











No final de cada meta
Existe um recomeçar,
Por isso vivo vagando
Pela imensidão do mar,
Entre as marolas do brio
E a proa do desafio
É preciso navegar!

Numa peleja tirana
Com relampejo de morte,
Enfrento com valentia
Correnteza e vento forte.
Descanso, quase nenhum,
Para vencer cada um
Dos desafios da sorte.

E se a tormenta deixar
Um dissabor sem igual,
No leme do velho barco
Transformo suor em sal,
Nos desafios medonhos
Semeio os mais lindos sonhos
Dentro do mundo real.

No grande mar dessa vida
Nunca desisto do pleito,
Nem a magia das ninfas
Vai mudar o meu conceito.
Só o bem me satisfaz,
Pelo cultivo da paz
Floresce amor no meu peito!

PedrO MonteirO

terça-feira, 22 de junho de 2010

O MAR E A VIDA












O mar é fonte da vida
do jeito que o povo tem,
jogando teimosas ondas
sempre a procura de quem,
mesmo sem faca e sem queijo,
chegue pra lhe dar um beijo
num gostoso vai e vem.

PedrO MonteirO

quarta-feira, 26 de maio de 2010

PIAUÍ SAMPA 2010 JÁ É SUCESSO!




*****
A mostra Piauí Sampa 2010 oferece oportunidade de um passeio por este enigmático estado nordestino, desvendando seus sabores e costumes, através da gastronomia, artesanato, apicultura, turismo, e grandes riquezas folclóricas e a história de um povo espirituoso e empreendedor, transformando matéria prima em negócios.

A mostra vai de 24 a 30 de Maio
no Shopping Eldorado
Av. Rebolças, 3970 – São Paulo
www.piauisampa.com.br


Em vinte quatro de maio
Noite de segunda feira,
Quem foi ao Shopping Eldorado
Teve que pegar fileira.
Era a Piauí em Sampa,
Feira que a Roberta, estampa
Em sua página primeira.

Aparecem na foto: O Vaqueiro Juarez, Aldy Carvalho, a Jornalista Roberta Rocha e Pedro Monteiro.

domingo, 14 de março de 2010

O TEAR















No tear temos a ponte

E também o corrimão,

Mas para fazer os fios

Precisamos algodão

Fruto colhido da mente

Em busca de criação.


Que a natureza nos ouça

No seu jeito de escutar,

Sobre a teia que tecemos

Num dadivoso tear,

Faça o favor de ouvir tudo

E só depois decifrar.


Pondo na nossa algibeira

Farta determinação

Repuxaremos os fios

Do saber, da inspiração,

Candeia do pensamento

No leme da evolução.


Somos o tear da vida

Urdindo o seu pelejar,

Um par de fios tecidos

Pelas Ondinas do mar

Num teimoso vai e vem,

Sem jamais desanimar.


                      PedrO  M.


sábado, 2 de janeiro de 2010

EU E VOCÊ














Tem na sábia natureza

Um constante pelejar,

Vejo uma folha caindo

 Outra nascer no lugar.

As estrelas incandescem

E depois desaparecem

Para o Astro-Rei brilhar.


Nos férteis campos da mente,

Morada da criação,

Vamos fazer a colheita

À luz da imaginação,

E do fruto recriar

Jeito novo de plantar

Mais uma sábia lição.


Nessa magia da vida

Quero te reconhecer,

Da caminhada do bem

Não vamos desvanecer

De semear igualdade

No jardim felicidade

Que haverá de florescer!



                                     Pedro M.


sexta-feira, 20 de março de 2009

BRIGA POR UM TOSTÃO







 Um próspero comerciante, muito sovina, mas que honrava muito sua palavra, por isso mesmo, era comum receber convites para apadrinhar crianças da região em que morava. O segredo para seu sucesso consistia em não perdoar dívidas - Isso não; dizia ele, dívida é dívida! - Nos seus negócios de compra e venda, dinheiro emprestado, qualquer que fosse a pendência, a menor quantia que fosse, ele ia atrás e recebia, mesmo que para isso tivesse que ir às vias de fato. Certa vez um compadre seu fez uma valiosa aposta com outro ricaço da região, afirmando que faria o compadre quebrar a jura, mesmo que fosse com, apenas, um tostão! Aposta feita, ele foi até o compadre e fez-lhe uma compra deixando pendente um tostão, com a promessa de fazer o acerto no próximo final de semana. Dívida contraída, imediatamente, saiu e avisou para o outro, com quem havia feito a aposta, este, mais uma vez garantiu: - esta aposta já está ganha! - Acrescentando: - Conheço muito bem aquele avarento e sei bem que até no inferno ele vai te cobrar, perde não, não importa a quantia, aquilo é um muquirana juramentado!

O compadre devedor, voltou para casa matutando um jeito de convencer o seu compadre a perdoar a dívida. Após passar uma semana disse para mulher: - Você vá à casa do nosso compadre e diga a ele que estou muito doente, precisando de remédio e peço que ele perdoe a quantia que lhe devo. A mulher foi e voltou com a resposta negativa, pois seu compadre respondeu: - Dinheiro para comprar remédios posso emprestar, mas perdoar dívidas, nunca! Negócio é negócio. Disse.

Ouvindo aquilo o compadre devedor, junto a sua mulher, pensaram uma estratégia que pudesse ser mais eficiente. Deixou passar mais uma semana e a mulher retornou ao compadre credor. Desta vez chegou e foi logo lhe dizendo: - Bom dia compadre! - Bom dia comadre, como vai meu afilhado, e meu compadre, melhorou? Meu compadre, seu afilhado está mais ou menos, mas seu compadre agora já é com Deus! - Que deus tenha pena da alma dele. - Disse o compadre, que imediatamente perguntou à “viúva”: Antes de partir, ele deixou alguma coisa para mim? - Sim, um pedido – Diz a mulher. - Um pedido? Comadre não me fale em perdoar dívida, foi isso? Não sendo isso, faço qualquer coisa, pode dizer, em nome da alma do meu compadre, lhe dou minha palavra, comadre! Então, naquele momento a comadre pôs em prática o plano: - Não, compadre, não é para o senhor perdoar o tostão que ele lhe devia, mas para o senhor, sozinho velar o corpo dele durante a noite no sagrado campo santo. - O compadre, não perdeu a pose e disse: - Pois feito! Pode preparar tudo que às 18 horas estarei aposto, o último pedido um compadre é sagrado. Disse.

A comadre voltou correndo para casa, cheia de alegria, dando como certo que a isca havia sido mordida. Pois a ideia era que durante o velório solitário, dentro do cemitério, quando o galo cantasse, o compadre que estava disfarçado de defunto, levantasse do caixão e assim, pelo medo, o compadre credor perdoasse o tostão que lhe devia e assim ele ganhava a polpuda quantia da aposta feita.

No horário combinado, corpo entregue, caixão aberto, velas acesas e o compadre foi se abrigar no galho de uma grande árvore. Na primeira parte da noite, ele ainda desceu uma vez para acender uma vela que havia se apagado.

Ocorre que, naquela noite, três ladrões fizeram um grande furto contendo joias e muito dinheiro. Passando por ali e vendo aquele caixão com um “defunto” dentro, pararam para dividir o produto saqueado. Encima da árvore o compadre nem tremeu, com a visão protegida por folhas e galhos, só observava a aproximação dos larápios.

Eles então, começaram a dividir os maços de dinheiro que eram tantos que, sequer, contavam! Repartiam pelos volumes de tanto que era a quantia. Foi quando entre os bens, encontraram um punhal de prata, daí aconteceu uma discórdia entre eles, pois não chegavam a um acordo, quanto ao valor do mesmo. Daí o líder do grupo sentenciou: - Já temos dinheiro o bastante, vamos enfiar este punhal no "finalmente" deste defunto! - Ah, neste momento o corpo pulou do caixão para correr, mas os ladrões desembestaram primeiro, a corrida foi tão medonha que nem olharam para trás. Só após uns trezentos metros, um que era mais corajoso voltou com os olhos abugalhados, mas ao se aproximar, ouviu um falatório: O meu tostão, não esqueça o meu tostão, me dá o meu tostão, passe pra cá o meu tostão! - Era o compadre credor que ao ver o “ressuscitado” cheio do dinheiro, insistiu em cobrar o seu tostão e o ladrão que voltava, ouvido aquilo, voltou em disparada, gritando para os colegas: - Vamos, vêm que é alma como diabos, daquele dinheiro todo, só tá dando um tostão pra cada uma…, Vamos!


Recolha de PedrO M.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

VOCÊ TAMBÉM CONTOU DA VACA?

 


Dizem os mais velhos que um homem desonesto criava um papagaio esperto como mais não podia ser. Esse dito homem, um dia, resolveu abater uma vaca de propriedade de um compadre seu. Como o dono da vaca era também seu vizinho, ele não pôde estender nem o couro nem a carne no varal, como geralmente se faz. Assim, sacrificou a maior parte da carcaça, aproveitando somente as carnes mais nobres, enterrando o resto numa grande vala. O papagaio, bicho que tudo observa, ficou de olho no malfeito. Correndo a notícia do sumiço da vaca, o espertalhão, quando indagado pelo compadre se sabia de algo, desconversou.

O papagaio tagarela não deixou barato:

— Paco-papaco! Tira a vaca do buraco!

Mesmo o sujeito negando, o compadre saiu dali de orelha em pé. Aí formou-se uma comitiva, com o dono da vaca roubada, o delegado e o padre, para interrogar o papagaio, e a desgraceira foi feita. O cabueta apontou o lugar, onde a comissão encontrou o couro e o restante da carcaça.

O sujeito livrou-se da cadeia, perdoado que foi por seu compadre, homem de bom coração. Ainda assim, precisou se desfazer de outros animais para cobrir o custo da vaca.

Acontece que, quando terminou todo esse frejo, já era noite e caía uma forte chuva. O malandro resolveu descontar toda a raiva no papagaio; já que fora depenado pelo compadre, ele agarrou o bicho, tirou-lhe todas as penas e o jogou na chuva.  O pobre louro, depois de muito pelejar, aproximou-se do forno, que ficava debaixo de uma coberta, e ali se quedou, pensativo. Naquele momento, se aproximou do forno um pinto que havia caído do poleiro, daqueles do pescoço pelado e quase sem penas pelo corpo. Vendo aquele estrupício, piando de fazer dó, o papagaio perguntou:

— Você também contou da vaca?

Se é mentira ou verdade, não sei;

Do jeito que ouvi, eu contei!

 

Fonte: Pedro Monteiro, São Paulo (SP).

Proveniência: Campo Maior, Piauí.

Classificação feita por Marco Haurélio: ATU 237 (O papagaio falante)


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

DOUTOR EM ACENO








Num reino distante, o rei havia mandado seu filho ao estrangeiro para que estudasse e aprendesse muitas sabedorias.  Após diplomar-se em diversos saberes, incluindo a comunicação por sinais, o moço voltou para sua terra natal, onde foi exaltado e aclamado como Doutor em Aceno.  Com a notícia da chegada do filho, o rei mandou preparar um grandioso banquete, numa festa repleta de ilustres convidados, escolhidos a dedo para a ocasião.  Além das autoridades, intimaram o rapaz mais sabido daquele reino para se medir com o filho do rei. Não havia nada de reconhecimento no tal convite a não ser enaltecer o Doutor. No dia do da festa, os lugares foram distribuídos de forma que o moço tomasse assento à mesa em frente ao príncipe. Ocorre que, faltando poucas horas para o evento, o tal moço foi acometido de uma terrível dor de barriga. Medo puro. O que fazer?

Por sorte, ou por azar — vamos saber daqui a pouco —, ele tinha um irmão gêmeo. Cara de um focinho do outro, como lá dizem. Na família, o pobre rapaz atendia pela alcunha de Doido. E, para se safar da vergonha, o sabido mandou o irmão Doido em seu lugar. O rapaz chegou ao palácio quando estavam todos tomando assento e foi encaminhado para o local reservado para ele: em frente ao maioral em sabedoria.

Almoçaram, do bom e do melhor e, depois do cafezinho, enquanto aguardavam o licor digestivo, o rei pediu que todos fizessem silêncio. Chegara afinal o grande momento: a demonstração de superioridade pelo Doutor de Aceno. Toda a atenção da audiência agora estava voltada para a interação entre os dois grandes rivais. Eis que o Doutor olhou para o Doido e levantou um dedo.  O Doido mirou nos olhos do Doutor e levantou dois dedos. Em seguida, o Doutor levantou três dedos, e o Doido, num movimento brusco, fechou a mão e ergueu o punho.

Naquele momento, ouviu-se uma estrondosa salva de palmas. Jornalistas e curiosos cercaram o Doutor para saber o conteúdo do diálogo entre ele e seu interlocutor.  O Doutor não se fez de rogado:

—  Olhe, fiquei feliz, pois trata-se de um homem que, além de sábio, está atento aos preceitos religiosos.

— Mas qual o teor do que foi dito nos acenos?

Empostando a voz, o Doutor esclareceu:

— Ora, eu levantei um dedo em louvor ao nosso único e verdadeiro Deus-Pai! Ele, sabiamente, levantou dois dedos, destacando a presença de Jesus, o Filho. Foi nesse momento que, percebendo o seu apreço pelo Providência Divina, levantei três dedos, invocando a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Ele ergueu o punho aos céus para dizer que as Três Pessoas são a essência de Deus.

Mais uma vez, o Doutor foi aclamado com outra salva de palmas.

Os curiosos agora voltavam suas atenções para o outro lado da mesa. Quando alguém indagou do conteúdo do “diálogo”, o Doido respondeu:

— Diálogo uma pinoia! Esse homem é muito é grosseiro. Veja só, nem bem termina o almoço, ele vem com um dedo ameaçando furar meu olho. Pois bem, armei logo dois dedos contra os olhos dele e o desafiei: vem! Não é que o peste arma três dedos, querendo acertar meus olhos e enfiar um na minha boca! Pois bem, eu disse para ele que, em resposta, levaria um soco nas fuças.

E ficou o dito pelo não dito.

Da festa eu trouxe três pedaços de bolo, mas, quando passava no Escorrega-lá-vai-um, levei o primeiro escorregão; lá se foi um pedaço. Andei mais um pouco e novamente escorreguei; lá se foi o segundo pedaço. Depois, como não escorreguei mais, trouxe o último pedaço para... você!

Fonte: Pedro Monteiro, São Paulo (SP).

Proveniência: Campo Maior, Piauí.

 

Classificação: ATU 924 (Discussão em linguagem gestual)

São raros os registros deste conto em Portugal (duas versões) e no Brasil (quatro se contarmos o subtipo B). O conto, no entanto, vagueia pelo mundo há pelo menos 25 séculos, como dá a entender o relato, que hoje soa como uma anedota, de Heródoto, sobre os presentes que os reis citas enviaram a Dario I, soberano persa, que, perigosamente, se aproximava de suas possessões. O arauto entregou ao famoso monarca um pássaro, um rato, um sapo e cinco flechas. Inquirido pelos persas sobre o significado de tão estranhos presentes,  o mensageiro desculpou-se, afirmando que sua missão era tão somente entregá-los. O rei Dario, adiantando-se, argumentou que os citas estavam se rendendo, pois lhe ofereciam terra e água. Trocando em miúdos: o rato nasce na terra e come o mesmo que os homens, o sapo vive na água, um pássaro se assemelha a um cavalo e as flechas eram símbolos de poder militar. Um conselheiro do rei não concordou e deu uma explicação mais convincente: se os persas não se tornassem pássaros e voassem para o céu, ou imitassem ratos e se enterrassem no chão, ou sapos e pulassem nos lagos, nunca mais voltariam para casa, e morreriam varados por flechas (Cf. Graham Anderson, Ancient Fairy and Folk Tales: An Anthology. New York, Routledge, 2019, cap. XII).


                                 Classificação: Poeta e Pesquisador Marco Haurélio.

 

















 


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

FRANCISCO: O MENINO DAS CEM MENTIRAS

























                        Era uma vez, um matuto de nome Zé Conrado que morava com sua mulher Filó e seus sete filhos: Pedro, Raimundo, Maria, Antônio, Bento, Jacó e o caçula Francisco, também chamado de Chicó. Viviam da pequena criação de animais e de lavoura, em terras do senhor Nicanor, um poderoso coronel daquela região. Mas num ano de forte estiagem, com os negócios indo de mal a pior, o Coronel entrou em forte depressão. Buscando descontração para amenizar suas angústias, culpas e remorsos por tantas maldades praticadas, resolveu, então, pagar para quem lhe contasse mentiras, como forma de distrair-se. O matuto Zé Conrado, por sua vez, afirmou: — Eu não vou até o Coronel, mas se ele vier a mim, garanto contar-lhe até cem mentiras e ele nem precisa pagar por isso!  
O Coronel soube da história e, depressa, saiu com doze capangas para a casa do matuto e, antes, fez um juramento: Se ele não cumprir o prometido, arranco-lhe o couro a chicotadas!

Quando avistou o Coronel e seus jagunços, o matuto tratou de fugir com sua prole. Porém Francisco, o Chicó, insistiu em resolver a questão frente a frente com o Coronel.
Zé Conrado, mesmo temendo crueldade com seu caçula, deu no pé e o Coronel chegou, encontrou o menino e foi logo lhe dizendo:
Cadê o amaldiçoado do teu pai?

— Senhor, pode se abancar que lhe conto tudo! — Disse-lhe o destemido menino, para depois destrinchar o causo — Olhe seu Coronel, meu pai tem uma grande criação de galinha poedeira, são 365, só as carijós. Cada uma põe sete ovos por dia. Todo santo dia ao amanhecer ele conta os ovos, um a um. Até que dia desses, quando fez a contagem, deu por falta de um. Ele enveredou mata adentro, caçando quem fez aquela safadeza; andou, andou, andou e encontrou uma enorme serpente com o ovo na boca. Foi então que reagiu à ofensa, apontou-lhe a espingarda, mas o tiro não foi certeiro. A cobra lhe avançou e ele se defendeu usando a espingarda como vara, mas a cobra era muito brava e foi um reboliço danado, seu Coronel! Quando ele já estava quase vencido, a cobra derrubou o ovo no chão e daí veio a maior surpresa! O ovo se partiu ao meio e dele saiu um enxerido macaquinho. O macaquinho não deu moleza não, seu Coronel, pôs logo fim à peleja dando um nó na tal cobra!
E meu pai, por toda essa sorte, montou uma venda de ovos e botou o macaquinho pra tomar de conta. O danado foi crescendo, crescendo, crescendo, mas não parava com as macaquices, mesmo já adulto, eram caretas e mais caretas. Com isso, espantou toda a freguesia. Aí, o velho ficou muito avexado, fez tudo que foi tipo de remédio para conter as moganguices do bicho. Acreditando ser problema de azia, foi consultar um velho curandeiro, que logo sentenciou: — Isso é prisão de ventre, é só ele dar uns bons espirros e soltar o que está prendendo! E indicou pimenta do reino, mas não explicou de que jeito; meu pai fez um preparado com a tal pimenta e fumo torrado e moído, uma espécie de rapé; vixe Maria, seu Coronel, o bicho fez foi piorar, cada espirro um pum com um barulho de lascar! O gato saio latindo e o cachorro miando, até a nossa porca velha foi logo se escapulindo. Só mesmo as galinhas pareciam nada sentir.
O jeito foi meu pai dar outro emprego para o bicho. Agora, como cuidador do galinheiro; o que também não deu certo, pois as sirigaitas galinhas, agora, estão desprezando o galo e só querem saber é de arrastar asas para o valente macaco.
Seu Coronel, oh bichinho presepeiro! Anda escanchado no galo, por quase o dia inteiro e quando dá meia noite é quem canta no poleiro!

O certo, seu Coronel, é que meu pai, nesse instante, está no mato caçando uma macaca que bote ovos!...”.

O Coronel, ouvindo todo esse balaio de lorotas, ficou muito satisfeito, deu animais e terras ao menino, por conseguinte, paz para toda a família e ainda o elogiou dizendo: — Você, hem! Pequenino, mas danado de mentiroso!

Autor: Pedro Monteiro, poeta Piauiense de Campo Maior.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A REPARAÇÃO





Era uma vez, uma mamãe pata muito dedicada às suas crias, por elas, era capaz de tudo; se necessário fosse, daria sua própria vida. Por isso mesmo, seus filhotes viviam bastante felizes, desfrutando da tranquilidade de uma maravilhosa lagoa. 
Aproveitando-se dessa, por vezes, exagerada confiança, uma maldosa raposa começou a matutar como tirar proveito da situação e conseguir um almoço. E num momento de rara desatenção ela deu um bote certeiro contra o patinho mais descuidado. Como logrou sucesso, ficou toda insolente, achando-se poderosa; nem imaginava a sorte que o futuro lhe guardava, pois mamãe pata não pensava noutra coisa a não ser redobrar os cuidados com aquela ninhada e ainda vingar-se do feito.
Pressentindo que os ataques da inimiga não cessariam, a mamãe pata pensou depressa numa artimanha que pudesse por um fim naquilo tudo. Enquanto isso, à espreita dentro de uma moita, a raposa continuava com olhares ameaçadores. Foi então que a pata reagiu e tomou uma atitude: insultou um amoado jacaré, para depois sair as carreiras em direção à moita onde estava a raposa. Quando presenciou aquele reboliço todo saindo das águas, a raposa ficou pronta para atacar, pois pensou na sorte grande — uma tolice da mamãe pata, resolver sacrificar-se no lugar dos filhotes! Por isso mesmo, alegrou-se toda, indo ao seu encontro pronta para agarrá-la. — Pois sim..., num piscar de olhos, a pata “quebrou” de lado e deixou a raposa cara a cara com o jacaré. Aí foi um fuzuê medonho! A raposa tentou fugir, mas foi alcançada e teve o rabo agarrado pela fera. Sem ação, sentindo-se totalmente dominada, exclamou: — Camarada pata, ajude-me, por piedade... piedade... piedade...
Piedade? — Disse a pata.
Socorro! Socorro, que lhe serei grata por toda a minha vida!!! — Disse-lhe a raposa.

— Só se você deixar minha família em paz! — Disse-lhe com altivez a pata.
Não tendo outro jeito, a raposa acovardou-se, jurou por todos os santos nunca mais atormentar aquela família, e ainda, ajudar na sua proteção. Só então, a pata, com ar vitorioso, pôs-se a provocar o jacaré e, este, num forte arremesso soltou o rabo da raposa, pois achou que jantaria a pata; doce ilusão! Mamãe pata saiu: — Qua, qua; qua, qua; qua, qua, qua…
O certo é que, de forma astuciosa, mamãe pata livrou-se das tramas dessa predadora. E a paz voltou a reinar naquela lagoa.


PedrO MonteirO

terça-feira, 27 de maio de 2008

SONHOS NUMA MIRAGEM

                                   
 Certa vez, motivado pela sustança de um farto almoço, me aconcheguei a uma confortável rede, fechei os olhos e viajei... E num passo de mágica, lá estava eu caminhando por uma mata, com paisagem de cor acinzentada, quese despida de folhas. O Sol queimava sem piedade e minha garganta doía de tanta sede. Buscando um lugar para me refrescar, segui por uma vereda coberta por folhas secas quando, repentinamente, avistei uma região com muito verde e rumei para lá. Chegando naquele lugar fiquei encantado com tudo que vi, pois, além do alegre cantar dos passarinhos; dos macaquinhos que faziam uma festa danada no alto dos arvoredos comendo e derrubando frutas no chão, estava eu, ali, frente a frente com uma belíssima nascente de água pura e cristalina. Aquela nascente formava um expressivo veio onde era possível avistar uma diversidade de pequenos peixes, tive mesmo uma forte sensação de ser o primeiro humano a pisar naquele lugar.


Era mesmo um encanto de lugar; com uma incomparável comunhão de belezas: aves; animais; flores e frutos silvestres transformavam aquilo tudo num verdadeiro paraíso terrestre.

Após saciar a sede que me castigava e comer saborosos frutos, deitei-me sobre a folhagem para um breve descanso do corpo e da alma... Eis que, subitamente, fui cercado e dominado por uma grande quantidade de animais, aqueles antes inofensivos, agora me hostilizavam; senti-me um verdadeiro réu! Fiquei horrorizado com o olhar cortante de uma pequenina tartaruga. Meu amigo, de forma impiedosa fui, por eles, arrastado para uma Corte de Justiça e, lá, o magistrado supremo me olhou firme e sentenciou:
Você está enquadrado na lei da supremacia dos bichos, que diz no seu Artigo 1º:
É dever de todo humano, preservar as florestas, a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

I — Cada humano responderá pelo lixo que gera e pela displicência em sua destinação.

Il — A natureza devolverá, rigorosamente, toda agressão a ela praticada, tais como: devastação das florestas, poluição do ar, dos rios e do mar.

Parágrafo único — Pena capital para quem descumprir o determinado. — Bateu o martelo!
Neste momento, fui acometido de um baita susto, um grande maracujá caiu sobre meu peito e dei um grande salto… epa!
           Na minha rede não!   
              Autor: PedrO MonteirO é poeta cordelista e contista Piauiense de Campo Maior.

ARTE E CULTURA

FLOR AMARELA

Brilho da flor amarela, num cenário multicor, a paisagem na janela sugere versos de amor.                          PedrO M.