sexta-feira, 31 de outubro de 2008

FRANCISCO: O MENINO DAS CEM MENTIRAS

























                        Era uma vez, um matuto de nome Zé Conrado que morava com sua mulher Filó e seus sete filhos: Pedro, Raimundo, Maria, Antônio, Bento, Jacó e o caçula Francisco, também chamado de Chicó. Viviam da pequena criação de animais e de lavoura, em terras do senhor Nicanor, um poderoso coronel daquela região. Mas num ano de forte estiagem, com os negócios indo de mal a pior, o Coronel entrou em forte depressão. Buscando descontração para amenizar suas angústias, culpas e remorsos por tantas maldades praticadas, resolveu, então, pagar para quem lhe contasse mentiras, como forma de distrair-se. O matuto Zé Conrado, por sua vez, afirmou: — Eu não vou até o Coronel, mas se ele vier a mim, garanto contar-lhe até cem mentiras e ele nem precisa pagar por isso!  
O Coronel soube da história e, depressa, saiu com doze capangas para a casa do matuto e, antes, fez um juramento: Se ele não cumprir o prometido, arranco-lhe o couro a chicotadas!

Quando avistou o Coronel e seus jagunços, o matuto tratou de fugir com sua prole. Porém Francisco, o Chicó, insistiu em resolver a questão frente a frente com o Coronel.
Zé Conrado, mesmo temendo crueldade com seu caçula, deu no pé e o Coronel chegou, encontrou o menino e foi logo lhe dizendo:
Cadê o amaldiçoado do teu pai?

— Senhor, pode se abancar que lhe conto tudo! — Disse-lhe o destemido menino, para depois destrinchar o causo — Olhe seu Coronel, meu pai tem uma grande criação de galinha poedeira, são 365, só as carijós. Cada uma põe sete ovos por dia. Todo santo dia ao amanhecer ele conta os ovos, um a um. Até que dia desses, quando fez a contagem, deu por falta de um. Ele enveredou mata adentro, caçando quem fez aquela safadeza; andou, andou, andou e encontrou uma enorme serpente com o ovo na boca. Foi então que reagiu à ofensa, apontou-lhe a espingarda, mas o tiro não foi certeiro. A cobra lhe avançou e ele se defendeu usando a espingarda como vara, mas a cobra era muito brava e foi um reboliço danado, seu Coronel! Quando ele já estava quase vencido, a cobra derrubou o ovo no chão e daí veio a maior surpresa! O ovo se partiu ao meio e dele saiu um enxerido macaquinho. O macaquinho não deu moleza não, seu Coronel, pôs logo fim à peleja dando um nó na tal cobra!
E meu pai, por toda essa sorte, montou uma venda de ovos e botou o macaquinho pra tomar de conta. O danado foi crescendo, crescendo, crescendo, mas não parava com as macaquices, mesmo já adulto, eram caretas e mais caretas. Com isso, espantou toda a freguesia. Aí, o velho ficou muito avexado, fez tudo que foi tipo de remédio para conter as moganguices do bicho. Acreditando ser problema de azia, foi consultar um velho curandeiro, que logo sentenciou: — Isso é prisão de ventre, é só ele dar uns bons espirros e soltar o que está prendendo! E indicou pimenta do reino, mas não explicou de que jeito; meu pai fez um preparado com a tal pimenta e fumo torrado e moído, uma espécie de rapé; vixe Maria, seu Coronel, o bicho fez foi piorar, cada espirro um pum com um barulho de lascar! O gato saio latindo e o cachorro miando, até a nossa porca velha foi logo se escapulindo. Só mesmo as galinhas pareciam nada sentir.
O jeito foi meu pai dar outro emprego para o bicho. Agora, como cuidador do galinheiro; o que também não deu certo, pois as sirigaitas galinhas, agora, estão desprezando o galo e só querem saber é de arrastar asas para o valente macaco.
Seu Coronel, oh bichinho presepeiro! Anda escanchado no galo, por quase o dia inteiro e quando dá meia noite é quem canta no poleiro!

O certo, seu Coronel, é que meu pai, nesse instante, está no mato caçando uma macaca que bote ovos!...”.

O Coronel, ouvindo todo esse balaio de lorotas, ficou muito satisfeito, deu animais e terras ao menino, por conseguinte, paz para toda a família e ainda o elogiou dizendo: — Você, hem! Pequenino, mas danado de mentiroso!

Autor: Pedro Monteiro, poeta Piauiense de Campo Maior.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A REPARAÇÃO





Era uma vez, uma mamãe pata muito dedicada às suas crias, por elas, era capaz de tudo; se necessário fosse, daria sua própria vida. Por isso mesmo, seus filhotes viviam bastante felizes, desfrutando da tranquilidade de uma maravilhosa lagoa. 
Aproveitando-se dessa, por vezes, exagerada confiança, uma maldosa raposa começou a matutar como tirar proveito da situação e conseguir um almoço. E num momento de rara desatenção ela deu um bote certeiro contra o patinho mais descuidado. Como logrou sucesso, ficou toda insolente, achando-se poderosa; nem imaginava a sorte que o futuro lhe guardava, pois mamãe pata não pensava noutra coisa a não ser redobrar os cuidados com aquela ninhada e ainda vingar-se do feito.
Pressentindo que os ataques da inimiga não cessariam, a mamãe pata pensou depressa numa artimanha que pudesse por um fim naquilo tudo. Enquanto isso, à espreita dentro de uma moita, a raposa continuava com olhares ameaçadores. Foi então que a pata reagiu e tomou uma atitude: insultou um amoado jacaré, para depois sair as carreiras em direção à moita onde estava a raposa. Quando presenciou aquele reboliço todo saindo das águas, a raposa ficou pronta para atacar, pois pensou na sorte grande — uma tolice da mamãe pata, resolver sacrificar-se no lugar dos filhotes! Por isso mesmo, alegrou-se toda, indo ao seu encontro pronta para agarrá-la. — Pois sim..., num piscar de olhos, a pata “quebrou” de lado e deixou a raposa cara a cara com o jacaré. Aí foi um fuzuê medonho! A raposa tentou fugir, mas foi alcançada e teve o rabo agarrado pela fera. Sem ação, sentindo-se totalmente dominada, exclamou: — Camarada pata, ajude-me, por piedade... piedade... piedade...
Piedade? — Disse a pata.
Socorro! Socorro, que lhe serei grata por toda a minha vida!!! — Disse-lhe a raposa.

— Só se você deixar minha família em paz! — Disse-lhe com altivez a pata.
Não tendo outro jeito, a raposa acovardou-se, jurou por todos os santos nunca mais atormentar aquela família, e ainda, ajudar na sua proteção. Só então, a pata, com ar vitorioso, pôs-se a provocar o jacaré e, este, num forte arremesso soltou o rabo da raposa, pois achou que jantaria a pata; doce ilusão! Mamãe pata saiu: — Qua, qua; qua, qua; qua, qua, qua…
O certo é que, de forma astuciosa, mamãe pata livrou-se das tramas dessa predadora. E a paz voltou a reinar naquela lagoa.


PedrO MonteirO

ARTE E CULTURA

FLOR AMARELA

Brilho da flor amarela, num cenário multicor, a paisagem na janela sugere versos de amor.                          PedrO M.