terça-feira, 27 de maio de 2008

SONHOS NUMA MIRAGEM

                                   
 Certa vez, motivado pela sustança de um farto almoço, me aconcheguei a uma confortável rede, fechei os olhos e viajei... E num passo de mágica, lá estava eu caminhando por uma mata, com paisagem de cor acinzentada, quese despida de folhas. O Sol queimava sem piedade e minha garganta doía de tanta sede. Buscando um lugar para me refrescar, segui por uma vereda coberta por folhas secas quando, repentinamente, avistei uma região com muito verde e rumei para lá. Chegando naquele lugar fiquei encantado com tudo que vi, pois, além do alegre cantar dos passarinhos; dos macaquinhos que faziam uma festa danada no alto dos arvoredos comendo e derrubando frutas no chão, estava eu, ali, frente a frente com uma belíssima nascente de água pura e cristalina. Aquela nascente formava um expressivo veio onde era possível avistar uma diversidade de pequenos peixes, tive mesmo uma forte sensação de ser o primeiro humano a pisar naquele lugar.


Era mesmo um encanto de lugar; com uma incomparável comunhão de belezas: aves; animais; flores e frutos silvestres transformavam aquilo tudo num verdadeiro paraíso terrestre.

Após saciar a sede que me castigava e comer saborosos frutos, deitei-me sobre a folhagem para um breve descanso do corpo e da alma... Eis que, subitamente, fui cercado e dominado por uma grande quantidade de animais, aqueles antes inofensivos, agora me hostilizavam; senti-me um verdadeiro réu! Fiquei horrorizado com o olhar cortante de uma pequenina tartaruga. Meu amigo, de forma impiedosa fui, por eles, arrastado para uma Corte de Justiça e, lá, o magistrado supremo me olhou firme e sentenciou:
Você está enquadrado na lei da supremacia dos bichos, que diz no seu Artigo 1º:
É dever de todo humano, preservar as florestas, a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

I — Cada humano responderá pelo lixo que gera e pela displicência em sua destinação.

Il — A natureza devolverá, rigorosamente, toda agressão a ela praticada, tais como: devastação das florestas, poluição do ar, dos rios e do mar.

Parágrafo único — Pena capital para quem descumprir o determinado. — Bateu o martelo!
Neste momento, fui acometido de um baita susto, um grande maracujá caiu sobre meu peito e dei um grande salto… epa!
           Na minha rede não!   
              Autor: PedrO MonteirO é poeta cordelista e contista Piauiense de Campo Maior.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

OS DIFERENTES IGUAIS!

     
         









       Certa vez, um rapaz rico e garboso, quando passeava num bosque, encontrou um porco-espinho, parou e observou a forma desengonçada do andar daquele bicho. E por julgá-lo um hostil e desafortunado ser, foi logo lhe interpelando:
Você assim tão espinhoso, como pode desse jeito abraçar alguém, afetuosamente, e ter paz? — O porco-espinho, serenamente, respondeu-lhe fazendo outra pergunta:
Por acaso, tu tens dificuldades para abraçar alguém da tua espécie? — O rapaz respondeu-lhe que não. Só então, disse-lhe o Porco-espinho:
A minha paz não depende só de minha atitude, mas, principalmente, da tua.
Como assim? — Indagou o rapaz, e o Porco-espinho, emendou-lhe:
Meus espinhos são minhas armas, minhas únicas armas, mas ouça bem, armas só de defesa.



Autor: PedrO MonteirO
Este Conto Fabuloso, apesar de sua singeleza, tem a intenção de contribuir para reflexões instigantes, visando caminhos para uma convivência harmoniosa entre os diferentes. Sendo que, seu autor acredita ser o respeito e a preservação à natureza, a maior contribuição para este propósito.

domingo, 25 de maio de 2008

O CORRETIVO


Certa vez, nas minhas andanças mata adentro pelas bandas da floresta azul, nas cercanias do rio Jenipapo, município de Campo Maior, no estado do Piauí, eis que me deparei com uma intrigante cena. Veja você!
Quando caminhava dentro de um igarapé que parecia há tempos não ver água, ouvi ruídos encima de um lajedo e olhando o que era, avistei uma grande macacada. Isso mesmo, era um grupo de uns vinte macacos, aproximadamente. Faziam uma algazarra danada e naquela folia toda, eles nem perceberam a minha presença. Fiquei ali olhando, avaliando e só então pude entender que se tratava de um trabalho coletivizado quebrando coquinhos. Tinha um que erguia uma pedra de mais ou menos dois quilos, sacudia sobre o coquinho e dava um pulo, enquanto os outros recolhiam os fragmentos dos bagos e faziam um montinho, supostamente, para posterior divisão. Só quando os assustei, dando alguns passos à frente, foi que fugiram em disparada, com exceção de um, o de rosto amuado que estava no alto de uma grande árvore. Este foi descendo, descendo, descendo e me encarou como quem quisesse dizer algo; talvez até fosse lamentando eu não poder compreendê-lo.
Fiquei ali por mais de um minuto, parado, contemplando a forma estranha com que aquele bicho me examinava.
Depois segui o meu destino, enveredando por dentro da mata, dando continuidade às minhas descobertas, e após andar alguns minutos, escutei grande reboliço nos arvoredos seguido de uma barulheira que soava como um misto peditório e murmurações. Ao me aproximar cheio de curiosidade, para minha surpresa, reconheci aquele mesmo macaco que tinha me encarado, agora estava ele ali, cercado e sendo açoitado pelos demais do bando.
Confesso que fiquei estarrecido, tentando entender o porquê daquilo tudo, pois sequer tinha eu mexido nos seus coquinhos!

Talvez fosse mesmo um corretivo pela desatenção. Sei lá!
O que posso afirmar é que a
coisa foi feia.

Autor: Pedro Monteiro

PÁSSARO PEREGRINO















A paixão é um pássaro peregrino
voando com as asas da emoção,
sentimento despido de razão
em busca de encontrar o seu destino.


                                          PedrO M.

sábado, 24 de maio de 2008

PRENÚNCIO DAS CHUVAS





Naquele esturricado sertão nordestino a situação era mesmo de muita tristeza. Já havia passado metade do que seria o período das águas, e nada de chuva! Plantar, naquelas condições, era só um desperdiçar de sementes. A fome se fazia presente vitimando, principalmente, os mais fracos e necessitados. O povo rezava e entoava cânticos rogando por reparação divina, pois acreditava tratar-se de um castigo dos Céus.

Foi neste cenário que meu pai decidiu que íamos à Serra da Jurema, um lugar distante dali, mas um dos poucos na redondeza onde ainda era possível tirar mel de abelhas nativas.
Saímos de casa cedo, ainda no turvo da madrugada, andando a pé por dentro da mata e quando já era meio-dia, o velho parou e ficou observando aquele Céu azul, sem uma nuvem sequer! Eu também parei e olhei, procurando o que tanto lhe prendia a atenção. Então, percebi que se tratava de um redemoinho de urubus plainando nas correntes de ar. Ele, olhou, olhou... e ficou por um bom tempo calado. De repente, olhou-me como se precisasse me dizer algo.

Reflexivo, ele observou também as poucas moitas que ainda teimavam em permanecer verdes, e delas voavam assustadas pombas-rola que por ali se abrigavam do Sol escaldante. Mas foi logo adiante que nos deparamos com a mais enigmática cena, em cima de uma grande árvore algo se mexia, pois, caíam fragmentos de cascas em nossas cabeças. Ao pararmos ali debaixo, protegendo os olhos com a aba do chapéu, o velho olhou para cima, contra o Sol e, para nosso espanto, caíram do alto daquele arvoredo duas lagartixas, uma agarrada ao rabo da outra. Aquilo para mim foi apenas divertido, mas meu pai mudou de feição, abraçou-me num gesto de grande alegria e, depois, rumamos para casa.

Eu, na época, com meus dez anos de idade, fiquei bastante intrigado com aquilo tudo e lhe perguntei cheio de curiosidade: — Por que estamos voltando? — Foi um aviso, meu filho. Coisa de Deus! — Disse, para depois me ordenar a passar por um lugarejo chamado São José, e avisar a alguns trabalhadores diaristas que no dia seguinte, logo cedo, comparecessem lá em casa para trabalharem a plantação.
Para surpresa minha e felicidade geral, já na boca da noite, começou relampejar e o dia seguinte amanheceu debaixo de muita chuva.
Oh, Deus! Bem-diz o sertanejo: — Chuva, mãe nossa! Essa tá fina, manda mais grossa.

                                                        PedrO M.

O LOBISOMEM E AS MAZELAS HUMANAS!


















Naquele lugarejo simples, com uma única rua e mais ou menos trinta casas, o assunto era um só, a maldição.
Era um período de forte estiagem, com isso, o povo se ajuntava e não falava de outra coisa a não ser do lobisomem. Uma unanimidade! Aquela cachorrada que passava latindo quase todas as noites, era mesmo denunciando a presença do bicho. Quando caía a tarde, era grande a preocupação. Muitos marcavam cruzes ou estrelas de seis pontas nas portas, colocavam agulhas virgens nos bolsos, entre outros amuletos, para espantar aquela maldição. O medo era manifesto. Alguns falavam baixinho, como se ele estivesse ouvindo. Mas tinha os que diziam temer só pelas crianças que ainda não haviam recebido o batismo, e ali eram, pelo menos, seis.
Era lobisomem e ponto! Especulações, só quanto à origem do bicho. O dono da venda disse já tê-lo visto descendo a serra e que por certo não era dali. Um freguês comentou — Só pode ser coisa daquele casal lá do pé da serra, dizem até que o homem perdeu um pedaço da orelha esquerda num acidente, sabe-se lá como! Não deve mesmo ser boa abelha. — Disse. O referido casal morava ali havia apenas dois anos e não tinha aderido completamente aos costumes da comunidade, plantava vegetais e criava aves e animais, apenas o suficiente para se nutrir e o homem quase não aparecia na feira de trocas, o que aguçava mais e mais a curiosidade de todos.
E o burburinho não parava. O marchante afirmou ter peitado o bicho de frente na passagem do riacho e até lhe dado um golpe com sua peixeira; gabava-se. O barbeiro confirmou o feito, lembrando que o homem do pé da serra tivera o tal acidente na orelha naquele mesmo período e que devia ser ele mesmo o bicho. Com isso, a manicure tagarelou — É vero! Vai ver que nem casados são. A parteira acrescentou — Arre, nem filhos têm, vai saber o porquê!
Os demais moradores, só de ouvidos, ficavam cada vez mais firmes em suas suspeitas, o que tornava insuportável para aquele homem, tamanha discriminação; até mudavam de calçada quando o encontravam. Foi aí que não aguentando mais o ofensivo falatório, ele tomou uma atitude. Afiou uma grande faca e ao anoitecer, saiu à procura do bicho. Ao sair de casa com a faca em punho, sua mulher ficou na porta olhando até que ele sumiu na curva do caminho. Um tempo depois, lá vem ele cabisbaixo, com ar de tristeza, e então, a mulher lhe perguntou: — O que aconteceu, homem? — Nem… Nem… Nem… — Diz logo, pela santa Virgem Maria! — Nem, nem te conto mulher! — Fala logo, homem, pelo amor de Deus! — Foi então que o homem contou: — Mulher, quando entrei na parte mais escura do caminho, dentro do riacho, de repente, apareceu-me um bicho graúdo pulando e veio com as patas dianteiras levantadas pra cima de mim…, era a nossa cachorra. — Valha-me, Nossa Senhora! E tu tocaste a faca nela; não foi, homem?... — Mas que nada, mulher, fedeu..., dei foi um grito muito feio!
Ocorre que a cachorra do casal, uma mestiça grande, de cor preta no dorso e marrom na barriga, estava no cio; até aí tudo bem, não fosse o fato de ela atrair uma cachorrada danada, trazendo à luz, mazelas, caprichos e outras fragilidades humanas.



ARTE E CULTURA

FLOR AMARELA

Brilho da flor amarela, num cenário multicor, a paisagem na janela sugere versos de amor.                          PedrO M.