quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O ESPALHAFATOSO CARRO DO DIABO


Em 2020, publiquei, pela Rinaré Edições, O Espalhafatoso Carro do Diabo, a história de Mané do Bode e seu perrengue diante de um encontro pra lá de tenebroso.
"Nessa tremenda carreira, até vento ele venceu..."
Este trabalho busca transmitir um pouco da essência da cultura nordestina, valorizando a poesia, o riso e a reflexão, em harmonia com a nossa rica tradição!
Estrofes iniciais:
Peço aqui vossa atenção
Para uma história contar,
Seu enredo é cabuloso
Que nos faz arrepiar,
Do homem que prometeu
Com o Demo viajar!
Próximo de Campo Maior,
No lugar Aracati,
Nas margens da rodovia
Que passa em Piripiri,
Antes de Cocal de Telha,
Estado do Piauí.
O que ouvi daquele povo,
Agora conto a vocês.
Dizem ter corpos que saem
Das tumbas e, quando em vez,
Aparecem transitando
Na BR 3,4,3.
Na construção da BR,
Dentro das valas cavadas,
Várias botijas com ossos
Humanos foram achadas.
Daí a motivação
Daquelas almas penadas.
Bem perto, Mané do Bode,
O marido de Maria,
Morava e se dedicava
À luta do dia a dia
Para tirar o sustento
Do roçado que fazia.
Mané, uma vez por mês,
Tinha que ir à cidade,
Além de fazer as compras,
Havia necessidade
De vender o produzido
Da sua propriedade.
Por isso, num certo dia,
Logo depois do café,
Mané foi para BR
Disposto e com muita fé,
Em conseguir um transporte,
Pois era longe ir a pé.
Seu rumo, Campo Maior
Por ter mais comerciantes.
Saiu de casa apressado,
Tendo a mulher dito antes:
— São Cristóvão lhe proteja!
O Santo dos viajantes.
Era muito perigoso
Viajar em caminhão,
Suas cargas balançavam
Naquela estrada de chão,
Mesmo assim, quando um passava
Mané lhe estendia a mão.
E sempre que algum parava,
Ele depressa dizia:
— Tem vaga aí na boleia?
Mas como resposta ouvia:
— Só tem em cima da carga.
Porém, Mané não queria.
Já depois do meio-dia
Para casa ele voltou:
— O que foi que aconteceu?
Maria lhe perguntou.
E ele disse: — Foi seu Santo!
Pois em nada me ajudou.
Só queria ir na boleia,
Sobre a carga eu tenho medo!
O Santo fez mal-ouvido
E do teu rogo brinquedo.
Agora até com o Cão,
Vou e não faço segredo.
E saiu depois do almoço,
Antes, porém, foi dizendo:
— De qualquer jeito eu irei,
Pois não estou me contendo.
E o Capiroto que faça;
Que o Santo não tá fazendo!
Voltando ao ponto avistou
Uma ingrisia na estrada.
Era um carro de cipó
Com boleia escancarada
E o motorista acenando,
Sugerindo a sua entrada.
Este feioso sujeito,
Como antes nunca visto,
Tinha olhos esbugalhados
E dois chifres de Mefisto,
Denunciando ser mesmo
Encarnação do Anticristo.
Danou-se a fazer munganga,
Parecendo tirar sarro.
Até cambalhotas deu
Com um trejeito bizarro,
Esnobando peripécias
Na direção do tal carro.
Além de ser muito estranho
Aquela improvisação,
As rodas feitas de cera,
Amarradas de cordão,
Só de ver se percebia
Ser mesmo o carro do Cão!
O Tinhoso motorista
Logo tratou de lembrá-lo,
Dizendo: — Me prometeste,
Estou aqui para buscá-lo,
Nesta jornada eu terei
Prazer em acompanhá-lo.
(.).
Além de fumaça e fogo
Que a tal explosão deixou,
Um forte cheiro de enxofre
Naquele instante exalou.
Mané, de tão assombrado,
Para casa disparou.
Quanto mais ele corria,
Mais tinha necessidade.
Um misto de desespero
E brutal ansiedade,
Fez com que desenvolvesse
Tamanha velocidade.
Nessa tremenda carreira
Até vento ele venceu,
Chegou de calça molhada,
Forte fedor recendeu.
Sua mulher perguntou:
— Que diabo lhe aconteceu?
Continua...


 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

SETE LENDAS INDÍGENAS EM CORDEL

 




Você já ouviu falar da Iara? É provável que sim, mas sabe qual a origem mítica da personagem? 
E como surgiu o pequi, fruto típico do Cerrado brasileiro? Por que há dias e noites no mundo? Os povos originários, de diferentes nações, tentaram responder a essas perguntas. As lendas indígenas, narrativas tradicionais transmitidas de geração em geração, desempenham valioso papel na preservação da história, cultura e sabedoria desses povos. Esta obra, composta por Sete Lendas Indígenas em Cordel, representa parte de um importante legado cultural e espiritual das comunidades ameríndias. 

Este é o meu mais recente livro, publicado pela editora Ciranda Cultural, resultado das minhas vivências e observações. Um verdadeiro reencontro com a minha ancestralidade.



quarta-feira, 22 de maio de 2024

O FANTASMA DO RIO SURUBIM

                                                               


Numa curiosidade

Bastante emancipatória,

Revisitei meus lembrados 

Nos guardados da memória,

Em cada passo, uma curva

E em cada curva, uma história.


Palmilhando esse caminho, 

Pautado na sensatez,

Segui nas bisbilhotanças

Imbuídas de altivez. 

Parte do que recolhi,

Agora conto a vocês.


Com o século dezoito 

E seu desenvolvimento,

Criar meio de transporte 

E estrada de escoamento

Das riquezas produzidas,

Era o foco do momento.


Sendo motivo de orgulho

Do povo piauiense,

O rio Surubim nascido

Na boa terra Altoense,

Compartilhando os encantos

Com o Campomaiorense.


Serpenteando a Caatinga,

Para depois desaguar

No Longá, que é outro rio

E, assim, também se integrar

Ao leito do Parnaíba

Que desemboca no mar.


Na travessia do rio

Foi construída uma ponte,

O progresso, lentamente,

Demonstrava sua fronte,

Limiar desse momento

Em prol de um novo horizonte. 


Numa estrada piçarrada,

Sempre que um carro passava,

Algo que estivesse à margem

Depressa se empoeirava      

E só se podia ver

Quando a poeira baixava.


Mas os ventos promissores 

Atraíam criadores

Com seus rebanhos diversos

E também os mercadores,

Melhorando o suprimento 

Para os demais moradores.


O Seu Raimundo Feitosa,

Habitava esse lugar,

Era um sujeito modesto

Que vivia a trabalhar,

Mas sempre arrumava tempo 

Para um breve prosear.


Por vezes torcia cana

Numa moenda engenhosa,

A garapa era servida

Regada a bastante prosa

Entre seletos amigos —

Reunião primorosa.


No seu estilo de vida

Algo chamava atenção,

O fato dele morar

Na mais pura solidão,

Tendo como companhia

Só um destemido cão.


Ele, também costumava,

Sempre ao cair a noitinha

Preparar o seu cigarro

Acomodado onde tinha

Boa visão para a estrada, 

Torcendo a sua palhinha.


Dessa forma, certo dia,

Ele pôs-se observar,

Uma luzinha contínua

Naquele curso a passar,

Sua curiosidade

Começou a despertar.


Mantendo-se muito atento 

Na posição costumeira,

Ele pôde concluir 

Que aquela cena certeira

Acontecia somente 

Nas noites de sexta-feira.


Certa feita, Seu Raimundo,

Muito atento observava

A luz se movimentando

De um jeito que clareava

Como se fosse uma vela 

Que o vento não apagava.



(...).



Ele, parado na margem, 

Pôde notar o sumiço

Daquela pequena tocha

Misteriosa e, com isso,

Seus cabelos ouriçaram

Antevendo um rebuliço.


Nessa hora, ele também 

Sentiu seu corpo tremer,

A seguir, um grande estrondo

Fez o rio estremecer…

Raimundo, nesse momento,

Nem conseguia correr.


Aturdido ele ficou 

Ao ouvir o cangapé,

As águas se agitavam 

Com enorme “labacé”,  

Ele ainda resistia

Por ser um homem de fé. 


Todo o leito borbulhava

Como se fosse fervura, 

A correnteza girava 

Com estupenda bravura, 

Foi quando emergiu das águas 

Uma horrenda criatura. 


Era um ser descomunal,

Uma serpente gigante,

Possuía um olho só,

Na cor vermelho brilhante, 

Disseminava terror

Num cenário horripilante. 


(Segui…). 


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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A LENDA DO GUARANÁ

A lenda do Guaraná tem origem na região norte do Brasil e é uma das mais populares do nosso folclore.
O guaraná é um fruto originário da Amazônia e, segundo a lenda dos povos Sateré-Mawé, representa os olhos de um curumim que foi mordido por uma serpente quando estava apanhando frutos na floresta e veio a falecer.
A Lenda do Guaraná foi publicada pela Rouxinol do Rinaré Edições/capa de Eduardo Azevedo.

Estrofes iniciais:

O folclore brasileiro,

De existência secular,

Tem no universo lendário 

Um meio de preservar

Boa parte dos valores 

Da cultura popular.


Povo Sateré-Mawé, 

Herdeiro de muitas crenças, 

Vem da tradição oral

Suas múltiplas sabenças

No cuidado com o corpo 

E proteção de doenças. 


(...).

Após banhar-se nas águas 

Do mais sublime desejo,

Não tardou a engravidar, 

No fulgor daquele ensejo,

Só bastou um beija-flor 

Num flerte, tascar-lhe um beijo.


Com as bênçãos de Tupã,

Pelo seu merecimento,

Por ter coração bondoso

Não tardou o nascimento, 

Na teia da evolução,

Do mais vistoso rebento.


Ele crescia mimoso, 

O mais querido dali,

Apreciador de frutas

Igual um Araguaí, 

E prontamente atendia

Pelo nome de Aguiry. 


Era um curumim saudável,

Cheio de amor e alegria, 

No coração da floresta

Onde se desenvolvia.

Sempre muito festejado 

Na medida em que crescia.


(...).


E, assim, num certo dia, 

Quando Aguiry caminhava 

Entre os pés de castanheiros

Uma cobra lhe espreitava,

Após um bote certeiro 

O seu veneno o matava.


Com isso, Yurupari, 

A face da crueldade,

Pôs os seus olhos na aldeia

Disseminando maldade 

Ao ceifar o curumim

Ainda na flor da idade.


Aguiry foi sepultado, 

Naquela mesma manhã,

Num lugar bastante calmo

Perto da tabapuã,

Seu corpo para Mãe-Terra

E a alma para Tupã.


Após esse acontecido 

Houve grande comoção. 

A morte daquele jovem 

Foi de cortar coração, 

Mas o feito deu lugar 

A pronta reparação. 


Fizeram da sepultura 

Um igara de tristeza,

O pranto daquele povo

Convertido em correnteza 

Sobre um chão abençoado 

Por obra da natureza. 


Com o passar de algum tempo 

Sua mãe observou 

Na fronte da sepultura 

Que uma plantinha brotou,

Em forma de trepadeira

Cresceu e frutificou.


Ao dar as primeiras flores 

A planta foi visitada

Por abelhas operárias

Numa missão delicada, 

Pela polinização 

Ela foi multiplicada.


Cada fruto apresentou 

Um traço muito bem-feito:

Uma casca avermelhada,  

Sementes pretas do jeito

Dos olhinhos de Aguiry,

Num paralelo perfeito. 


Segue…


Contato com o autor:

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ARTE E CULTURA

FLOR AMARELA

Brilho da flor amarela, num cenário multicor, a paisagem na janela sugere versos de amor.                          PedrO M.