O FANTASMA DO RIO SURUBIM
Numa curiosidade
Bastante emancipatória,
Revisitei meus lembrados
Nos guardados da memória,
Em cada passo, uma curva
E em cada curva, uma história.
Palmilhando esse caminho,
Pautado na sensatez,
Segui nas bisbilhotanças
Imbuídas de altivez.
Parte do que recolhi,
Agora conto a vocês.
Com o século dezoito
E seu desenvolvimento,
Criar meio de transporte
E estrada de escoamento
Das riquezas produzidas,
Era o foco do momento.
Sendo motivo de orgulho
Do povo piauiense,
O rio Surubim nascido
Na boa terra Altoense,
Compartilhando os encantos
Com o Campomaiorense.
Serpenteando a Caatinga,
Para depois desaguar
No Longá, que é outro rio
E, assim, também se integrar
Ao leito do Parnaíba
Que desemboca no mar.
Na travessia do rio
Foi construída uma ponte,
O progresso, lentamente,
Demonstrava sua fronte,
Limiar desse momento
Em prol de um novo horizonte.
Numa estrada piçarrada,
Sempre que um carro passava,
Algo que estivesse à margem
Depressa se empoeirava
E só se podia ver
Quando a poeira baixava.
Mas os ventos promissores
Atraíam criadores
Com seus rebanhos diversos
E também os mercadores,
Melhorando o suprimento
Para os demais moradores.
O Seu Raimundo Feitosa,
Habitava esse lugar,
Era um sujeito modesto
Que vivia a trabalhar,
Mas sempre arrumava tempo
Para um breve prosear.
Por vezes torcia cana
Numa moenda engenhosa,
A garapa era servida
Regada a bastante prosa
Entre seletos amigos —
Reunião primorosa.
No seu estilo de vida
Algo chamava atenção,
O fato dele morar
Na mais pura solidão,
Tendo como companhia
Só um destemido cão.
Ele, também costumava,
Sempre ao cair a noitinha
Preparar o seu cigarro
Acomodado onde tinha
Boa visão para a estrada,
Torcendo a sua palhinha.
Dessa forma, certo dia,
Ele pôs-se observar,
Uma luzinha contínua
Naquele curso a passar,
Sua curiosidade
Começou a despertar.
Mantendo-se muito atento
Na posição costumeira,
Ele pôde concluir
Que aquela cena certeira
Acontecia somente
Nas noites de sexta-feira.
Certa feita, Seu Raimundo,
Muito atento observava
A luz se movimentando
De um jeito que clareava
Como se fosse uma vela
Que o vento não apagava.
(...).
Ele, parado na margem,
Pôde notar o sumiço
Daquela pequena tocha
Misteriosa e, com isso,
Seus cabelos ouriçaram
Antevendo um rebuliço.
Nessa hora, ele também
Sentiu seu corpo tremer,
A seguir, um grande estrondo
Fez o rio estremecer…
Raimundo, nesse momento,
Nem conseguia correr.
Aturdido ele ficou
Ao ouvir o cangapé,
As águas se agitavam
Com enorme “labacé”,
Ele ainda resistia
Por ser um homem de fé.
Todo o leito borbulhava
Como se fosse fervura,
A correnteza girava
Com estupenda bravura,
Foi quando emergiu das águas
Uma horrenda criatura.
Era um ser descomunal,
Uma serpente gigante,
Possuía um olho só,
Na cor vermelho brilhante,
Disseminava terror
Num cenário horripilante.
(Segui…).
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