sexta-feira, 11 de abril de 2025

CHICÓ, O MENINO DAS CEM MENTIRAS


O folheto Chicó, o Menino das Cem Mentiras, publicado em 2009 pela editora Luzeiro, foi meu primeiro texto. Essa publicação foi a porta de entrada para dezenas de outras, vestidas de livros, livretos e folhetos de cordel. Tudo começou com esse primeiro passo na seara da literatura de cordel.

Além de incentivar essa publicação, o poeta e pesquisador Marco Haurélio também foi o responsável pela ilustração da capa, mantida na edição mais recente do folheto, agora sob a responsabilidade da Rouxinol do Rinaré Edições.

A seguir, compartilho algumas estrofes do texto.

Venho respeitosamente
Pedir a vossa atenção.
Falarei de um Coronel,
Um homem sem coração,
E da astúcia de um menino,
Como segue a narração:

O Coronel atendia
Por nome de Nicanor,
Era um sujeito perverso,
Sem afeto, sem amor,
Que vivia a oprimir
O povo trabalhador.

Aos berros, ele dizia,
Batendo forte no peito,
Que o desígnio da morte
Era, sim, seu maior feito,
E só quem ele queria
À vida tinha direito.

Do jovem ao ancião,
No chicote ele tratava,
E quando escutava um não
A sua ira aumentava,
Mesmo que fosse mulher,
Sem piedade açoitava.

Mas se todos têm seu dia,
O Coronel teve o dele.
Estando preocupado
Com um assunto que ele
Preferia não lembrar,
E assim não se sujar nele.

Buscando descontração
Mandou rodar a notícia,
Prometendo pagar bem
A quem mostrasse perícia
Para lhe contar lorotas
Sem assombro e sem malícia.

A notícia chegou logo
A um certo Zé Conrado,
Que do bruto Nicanor
Era mais um agregado,
E para o povo dali
Homem bastante estimado.

Era pai de sete filhos
Com sua mulher Filó:
Pedro, Raimundo, Maria,
Antonio, Bento e Jacó;
Mais o pequeno Francisco,
Conhecido por Chicó.

Certo dia, Zé Conrado,
Mesmo sem ter intenção
De afrontar o Coronel
Ou lhe fazer agressão,
Jogando conversa fora,
Criou uma confusão.

Disse: — Ao Coronel não vou,
Pois não me sinto obrigado,
Mas se ele quiser, que venha
Ouvir meu pronunciado:
Eu conto até cem mentiras
A qualquer interessado!

Um jagunço, ouvindo aquilo,
Correu com má intenção
De provocar desavença
Em quem é sem coração,
E levou ao Coronel
Como uma provocação.

O Nicanor deu um urro,
Estrebuchando na teia,
Dizendo: — Se não cumprir,
A coisa vai ficar feia,
Ou me conta cem mentiras
Ou perde o couro na peia!

Depois reuniu dez cabras,
Dos mais cruéis que ele tinha,
Gritando: — Isso é pra já
E não quero ouvir gracinha!
Vou mostrar a Zé Conrado
Como se anda na linha.

Chegando com seus jagunços
Na casa desse matuto,
O Zé, que não era besta,
Não perdeu nem um minuto,
Fugindo com sua prole
Atrás de um novo reduto.

Porém Chicó, seu caçula,
Disse: — Pai, deixe qu’eu fico,
Pois se eu amanso esse monstro
O senhor não “paga o mico”,
De provocar uma águia,
Depois cair no seu bico.

E Zé Conrado se foi
Com o coração partido,
No temor de crueldade
Com seu menino querido,
Rogando ao bom padre Cícero
Que ele fosse protegido.

Quando o Coronel chegou,
Já foi logo esbravejando:
— Se o teu pai está em casa,
É bom que vá me falando!
Para ele eu trouxe um relho,
Porém, tem outro sobrando!

Chicó disse ao Coronel
Para ele se abancar:
— Deixe que lhe fale agora
Tudo sem titubear,
Se lhe faltar à verdade,
Pode, sim, me castigar.

Seu Coronel Nicanor,
Ouça o que vou lhe dizer:
O meu pai cria galinhas
E com isso tem prazer
De tratar com muito zelo
Aquilo que vai fazer.

É na contagem dos ovos,
Que ele aumenta o cuidado,
Com capricho, um a um,
Fica lá sempre ocupado,
Zelando do galinheiro
Do jeito mais dedicado.

Certa vez, quando contava,
Ele, com muita clareza,
Sentiu que faltava um,
Recontou pra ter certeza;
Depois saiu procurando
Quem lhe fez a safadeza.

Embrenhando-se na mata,
Bem depressa ele foi vendo
A bitela de uma cobra
O dito ovo comendo,
Foi então qu’ele partiu
Pra riba dela correndo.

Esbarrando frente a frente,
Sua espingarda ele armou,
O tiro não foi certeiro
E a cobra nele avançou,
Como quem diz: “Eu te pego!”
Mas o seu bote falhou.

Seu Coronel, no momento,
Foi a maior confusão:
Ele levantou a cobra
E o ovo caiu no chão,
E dos seus cacos saiu
Um macaquinho gibão!

O macaco pôs um fim
Naquela grande batalha;
Deu um nó cego na cobra,
Em postura de quem ralha,
Na forma de reprimenda
Por sua tremenda falha.

O velho ficou contente,
Pois achou que teve sorte.
Botou uma venda de ovos
Para o macaquinho forte
Cuidar do mesmo jeitinho
Que lhe defendeu da morte.

Acabou não dando certo
Por uma questão de jeito:
Ele perdeu a alegria,
Mas, sem parar o trejeito,
A freguesia pensava
Qu’era falta de respeito.

Já meu pai pensava ser
Algum problema de azia,
Apelando para crenças
Invocou Santa Luzia,
Pois difícil era olhar
Caretas que ele fazia.

Levado a um curandeiro,
Este foi logo dizendo:
— Isto é só prisão de ventre,
É tudo que estou vendo!
Se ele der alguns espirros
Solta o ar que está prendendo.

Foi preparado um rapé,
Feito de fumo torrado,
De cheiro muito gostoso,
Mas quando foi inalado,
O bicho soltou foi pum
Com um barulho lascado.

(.)...
Acabou não dando certo
Por uma questão de jeito:
Ele perdeu a alegria,
Mas, sem parar o trejeito,
A freguesia pensava
Qu’era falta de respeito.

Já meu pai pensava ser
Algum problema de azia,
Apelando para crenças
Invocou Santa Luzia,
Pois difícil era olhar
Caretas que ele fazia.

Levado a um curandeiro,
Este foi logo dizendo:
— Isto é só prisão de ventre,
É tudo que estou vendo!
Se ele der alguns espirros
Solta o ar que está prendendo.

Foi preparado um rapé,
Feito de fumo torrado,
De cheiro muito gostoso,
Mas quando foi inalado,
O bicho soltou foi pum
Com um barulho lascado.

Naquela situação,
Tanto de noite ou de dia,
Qualquer que fosse o cristão,
Perto dele não podia
Respirar por um instante,
De tanto que ele fedia!

Cachorro saiu miando,
Um gato saiu latindo,
Até uma porca velha
Foi logo se escapulindo;
Só as galinhas que não
Pareciam estar sentindo.

É chefe de galinheiro
O seu mais recente emprego,
Só que as galinhas o tratam
Com preferência e apego
E até já andam fazendo
Do velho galo, um pelego.

O meu pai ficou danado!
Não cansa de reclamar,
Que o seu estoque de ovos
Já está pra se acabar:
“Como pode! Macaquinho
Com galinha namorar?”

Acho que falta é vergonha,
Oh! Bichinho presepeiro!
Anda montado no galo
Dia inteiro no terreiro,
Mas quando dá meia-noite
É quem canta no poleiro.

Continua…

segunda-feira, 24 de março de 2025

VIDA E LUTA DE ESPERANÇA GARCIA


     

O Piauí tem história

Que nos instiga e fascina.

Falarei neste Cordel

Sobre uma grande heroína,

Mulher negra, escravizada,

Da região nordestina.


Foi da pia batismal,

Como Esperança Garcia,

Que se fez raio de luz

Nas trevas da tirania,

Pela destemida luta

Em prol de cidadania.


Fazenda dos Algodões,

Lugar onde ela nasceu,

Pertencer aos jesuítas

Foi este o destino seu;

Registro mais detalhado

Com o tempo se perdeu.


Era o século XVlll,

Quando se deu esse evento;

Cinquenta e um foi o ano

Que marcou seu nascimento,

Ficando o dia e o mês

Ausentes neste momento.


Também é desconhecida

A sua filiação

Pela precariedade

De fonte de informação,

Que possa ser confirmada — 

Não há documentação.


Foi mãe aos dezesseis anos,

Decerto inexperiente,

Tendo o segundo e terceiro 

Filhos no mesmo ambiente,

Depois deu à luz mais quatro

Em paragem diferente.


Junto aos padres jesuítas

Com quem ela foi criada,

A labuta era constante,

Mas bastante humanizada,

Por isso, teve a façanha

De ser alfabetizada.


Mesmo não tendo na época

Qualquer amparo legal,

Ensinar cativo a ler

Era um ato marginal,

Por ser uma mulher negra;

Um agravante penal.


Mas o destino compôs

Os traços da sua sina

Com altivez expressada

Desde os tempos de menina,

Hoje presença luzeira

Na condição feminina.


(...).


Buscando novos caminhos,

Por um engenhoso plano,

Dom José I fez

Um edito soberano

Que depôs os Jesuítas,

Apesar do grande dano.


Assim, Marquês de Pombal

Impôs seu ponto de vista,

No tocante à catequese,

Postura protagonista

Da Coroa Portuguesa

Com viés Iluminista.


Mesmo os Sacerdotes tendo

Um papel fundamental

Na Catequese e na Ordem

No Brasil colonial,

Inda assim, foram expulsos

Por capricho de Pombal.


Passaram-se oito anos

De intensa transformação:

Bens pertencentes aos padres

Com nova destinação,

A Corte é quem nomeava

O executor da gestão.


Esperança estava bem

No lugar que foi criada,

Na cozinha e na limpeza,

Sempre muito dedicada,

Além de cuidar dos filhos

Depois da sua jornada.


Convivendo em harmonia

Na casa do seu senhor

José Esteves Falcão,

Bom administrador

Do lugar que ela servia

Com dedicado labor.


Uma inesperada ação

De gestão reformulada,

Para a Fazenda Poções

Esperança foi levada,

Onde, impiedosamente,

Passou a ser maltratada.


No momento em que chegou,

Já percebeu que teria

Um clima de turbulência

Na pauta do dia a dia,

Mesmo sem pensar na soma

Do preço que pagaria.


Ela e duas companheiras

Viveram grande terror.

Capitão Vieira Couto,

Na condição de feitor,

Era um sujeito perverso

Do coração sem amor.


Nas garras deste tirano,

Por ser cativa e mulher,

Ele a tratava igualmente

Se fosse um traste qualquer;

Sempre bradava dizendo:

É do jeito que eu quiser!


Os maus-tratos eram tantos,

Causando dor e tormento.

O maldito capitão

Ria do seu sofrimento.

Déspota juramentado,

Nem escutava argumento.


(...).

Esperança era assim mesmo,

Uma mulher instigante.

Quanto mais a conhecemos

Nos surpreende o bastante,

Tendo nos brindado aqui

Com este feito brilhante.


Nesta carta-petição,

Além de voz pioneira,

Sua determinação

Faz tremular a bandeira

Do Piauí, que é Brasil,

E berço desta guerreira.



A Carta:

“Eu sou uma escrava de Vossa Senhoria da administração do capitão Antônio Vieira do Couto, casada. Desde que o capitão lá foi administrar que me tirou da fazenda algodões, onde vivia com o meu marido, para ser cozinheira da sua casa, ainda nela passo muito mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo peada; por misericórdia de Deus escapei. A segunda, estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha os olhos em mim, ordenando que eu diga ao procurador que mande para a fazenda de onde me tirou, para eu viver com meu marido e batizar minha filha”.

De V.S. ª. sua escrava, Esperança Garcia”.

*Notas: Gonçalo Lourenço Botelho de Castro - Governador da Capitania do Piauí.

Poções - Fazenda administrada pelo capitão Antônio Vieira do Couto, de onde Esperança Garcia fugiu. 








 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O ESPALHAFATOSO CARRO DO DIABO


Em 2020, publiquei, pela Rinaré Edições, O Espalhafatoso Carro do Diabo, a história de Mané do Bode e seu perrengue diante de um encontro pra lá de tenebroso.
"Nessa tremenda carreira, até vento ele venceu..."
Este trabalho busca transmitir um pouco da essência da cultura nordestina, valorizando a poesia, o riso e a reflexão, em harmonia com a nossa rica tradição!
Estrofes iniciais:
Peço aqui vossa atenção
Para uma história contar,
Seu enredo é cabuloso
Que nos faz arrepiar,
Do homem que prometeu
Com o Demo viajar!
Próximo de Campo Maior,
No lugar Aracati,
Nas margens da rodovia
Que passa em Piripiri,
Antes de Cocal de Telha,
Estado do Piauí.
O que ouvi daquele povo,
Agora conto a vocês.
Dizem ter corpos que saem
Das tumbas e, quando em vez,
Aparecem transitando
Na BR 3,4,3.
Na construção da BR,
Dentro das valas cavadas,
Várias botijas com ossos
Humanos foram achadas.
Daí a motivação
Daquelas almas penadas.
Bem perto, Mané do Bode,
O marido de Maria,
Morava e se dedicava
À luta do dia a dia
Para tirar o sustento
Do roçado que fazia.
Mané, uma vez por mês,
Tinha que ir à cidade,
Além de fazer as compras,
Havia necessidade
De vender o produzido
Da sua propriedade.
Por isso, num certo dia,
Logo depois do café,
Mané foi para BR
Disposto e com muita fé,
Em conseguir um transporte,
Pois era longe ir a pé.
Seu rumo, Campo Maior
Por ter mais comerciantes.
Saiu de casa apressado,
Tendo a mulher dito antes:
— São Cristóvão lhe proteja!
O Santo dos viajantes.
Era muito perigoso
Viajar em caminhão,
Suas cargas balançavam
Naquela estrada de chão,
Mesmo assim, quando um passava
Mané lhe estendia a mão.
E sempre que algum parava,
Ele depressa dizia:
— Tem vaga aí na boleia?
Mas como resposta ouvia:
— Só tem em cima da carga.
Porém, Mané não queria.
Já depois do meio-dia
Para casa ele voltou:
— O que foi que aconteceu?
Maria lhe perguntou.
E ele disse: — Foi seu Santo!
Pois em nada me ajudou.
Só queria ir na boleia,
Sobre a carga eu tenho medo!
O Santo fez mal-ouvido
E do teu rogo brinquedo.
Agora até com o Cão,
Vou e não faço segredo.
E saiu depois do almoço,
Antes, porém, foi dizendo:
— De qualquer jeito eu irei,
Pois não estou me contendo.
E o Capiroto que faça;
Que o Santo não tá fazendo!
Voltando ao ponto avistou
Uma ingrisia na estrada.
Era um carro de cipó
Com boleia escancarada
E o motorista acenando,
Sugerindo a sua entrada.
Este feioso sujeito,
Como antes nunca visto,
Tinha olhos esbugalhados
E dois chifres de Mefisto,
Denunciando ser mesmo
Encarnação do Anticristo.
Danou-se a fazer munganga,
Parecendo tirar sarro.
Até cambalhotas deu
Com um trejeito bizarro,
Esnobando peripécias
Na direção do tal carro.
Além de ser muito estranho
Aquela improvisação,
As rodas feitas de cera,
Amarradas de cordão,
Só de ver se percebia
Ser mesmo o carro do Cão!
O Tinhoso motorista
Logo tratou de lembrá-lo,
Dizendo: — Me prometeste,
Estou aqui para buscá-lo,
Nesta jornada eu terei
Prazer em acompanhá-lo.
(.).
Além de fumaça e fogo
Que a tal explosão deixou,
Um forte cheiro de enxofre
Naquele instante exalou.
Mané, de tão assombrado,
Para casa disparou.
Quanto mais ele corria,
Mais tinha necessidade.
Um misto de desespero
E brutal ansiedade,
Fez com que desenvolvesse
Tamanha velocidade.
Nessa tremenda carreira
Até vento ele venceu,
Chegou de calça molhada,
Forte fedor recendeu.
Sua mulher perguntou:
— Que diabo lhe aconteceu?
Continua...


 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

SETE LENDAS INDÍGENAS EM CORDEL

 




Você já ouviu falar da Iara? É provável que sim, mas sabe qual a origem mítica da personagem? 
E como surgiu o pequi, fruto típico do Cerrado brasileiro? Por que há dias e noites no mundo? Os povos originários, de diferentes nações, tentaram responder a essas perguntas. As lendas indígenas, narrativas tradicionais transmitidas de geração em geração, desempenham valioso papel na preservação da história, cultura e sabedoria desses povos. Esta obra, composta por Sete Lendas Indígenas em Cordel, representa parte de um importante legado cultural e espiritual das comunidades ameríndias. 

Este é o meu mais recente livro, publicado pela editora Ciranda Cultural, resultado das minhas vivências e observações. Um verdadeiro reencontro com a minha ancestralidade.



quarta-feira, 22 de maio de 2024

O FANTASMA DO RIO SURUBIM

                                                               


Numa curiosidade

Bastante emancipatória,

Revisitei meus lembrados 

Nos guardados da memória,

Em cada passo, uma curva

E em cada curva, uma história.


Palmilhando esse caminho, 

Pautado na sensatez,

Segui nas bisbilhotanças

Imbuídas de altivez. 

Parte do que recolhi,

Agora conto a vocês.


Com o século dezoito 

E seu desenvolvimento,

Criar meio de transporte 

E estrada de escoamento

Das riquezas produzidas,

Era o foco do momento.


Sendo motivo de orgulho

Do povo piauiense,

O rio Surubim nascido

Na boa terra Altoense,

Compartilhando os encantos

Com o Campomaiorense.


Serpenteando a Caatinga,

Para depois desaguar

No Longá, que é outro rio

E, assim, também se integrar

Ao leito do Parnaíba

Que desemboca no mar.


Na travessia do rio

Foi construída uma ponte,

O progresso, lentamente,

Demonstrava sua fronte,

Limiar desse momento

Em prol de um novo horizonte. 


Numa estrada piçarrada,

Sempre que um carro passava,

Algo que estivesse à margem

Depressa se empoeirava      

E só se podia ver

Quando a poeira baixava.


Mas os ventos promissores 

Atraíam criadores

Com seus rebanhos diversos

E também os mercadores,

Melhorando o suprimento 

Para os demais moradores.


O Seu Raimundo Feitosa,

Habitava esse lugar,

Era um sujeito modesto

Que vivia a trabalhar,

Mas sempre arrumava tempo 

Para um breve prosear.


Por vezes torcia cana

Numa moenda engenhosa,

A garapa era servida

Regada a bastante prosa

Entre seletos amigos —

Reunião primorosa.


No seu estilo de vida

Algo chamava atenção,

O fato dele morar

Na mais pura solidão,

Tendo como companhia

Só um destemido cão.


Ele, também costumava,

Sempre ao cair a noitinha

Preparar o seu cigarro

Acomodado onde tinha

Boa visão para a estrada, 

Torcendo a sua palhinha.


Dessa forma, certo dia,

Ele pôs-se observar,

Uma luzinha contínua

Naquele curso a passar,

Sua curiosidade

Começou a despertar.


Mantendo-se muito atento 

Na posição costumeira,

Ele pôde concluir 

Que aquela cena certeira

Acontecia somente 

Nas noites de sexta-feira.


Certa feita, Seu Raimundo,

Muito atento observava

A luz se movimentando

De um jeito que clareava

Como se fosse uma vela 

Que o vento não apagava.



(...).



Ele, parado na margem, 

Pôde notar o sumiço

Daquela pequena tocha

Misteriosa e, com isso,

Seus cabelos ouriçaram

Antevendo um rebuliço.


Nessa hora, ele também 

Sentiu seu corpo tremer,

A seguir, um grande estrondo

Fez o rio estremecer…

Raimundo, nesse momento,

Nem conseguia correr.


Aturdido ele ficou 

Ao ouvir o cangapé,

As águas se agitavam 

Com enorme “labacé”,  

Ele ainda resistia

Por ser um homem de fé. 


Todo o leito borbulhava

Como se fosse fervura, 

A correnteza girava 

Com estupenda bravura, 

Foi quando emergiu das águas 

Uma horrenda criatura. 


Era um ser descomunal,

Uma serpente gigante,

Possuía um olho só,

Na cor vermelho brilhante, 

Disseminava terror

Num cenário horripilante. 


(Segui…). 


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O livro é farol aceso Nos campos do pensamento, Semeia luz na jornada, Põe a vida em movimento; Além de abrir horizontes, É do saber aliment...