quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
ORGULHO NORDESTINO
domingo, 30 de novembro de 2025
A SAGA DE BIRO - da rua ao trono
Entre versos, contos e lendas, também existe espaço para a doçura cotidiana. Hoje, quem toma conta da cena é Biro — meu gato mimoso, dono de um olhar que desarma qualquer pressa. Um pequeno rei da tranquilidade, lembrando que o afeto também é poesia.
Este texto foi escrito a quatro mãos: eu e Nilza Dias.
Seguem as estrofes iniciais:
No terreiro da lembrança
Há histórias de emoção
Pulsando no coração,
Feitas de dor e esperança.
Por vez, a vida balança
Entre medo e dissabor;
Surge um sopro protetor
Quando a sorte muda o giro,
Foi assim com o nosso Biro
Encontrando, enfim, amor.
Ele já dormiu na rua
Foi filhote abandonado,
Por cachorro ameaçado,
Quase ceifa a vida sua,
É verdade, nua e crua
Daqueles que não têm lar;
Alguém veio lhe salvar
Deu comida, deu carinho,
Depois o deixou sozinho
Na rua a perambular.
Outra vez foi acolhido,
Teve comida e cuidado,
Mas se manteve acuado
No seu cantinho encolhido,
Andando sempre escondido
D’uma dezena de irmãos,
Sentindo ali novas mãos
Que finalmente lhe guia
Para um quadro de alegria,
Pintado a muitas demãos.
(...)
Enfim, encontra outro espaço,
Ele lindo, todo gato,
Tem acolhimento e trato,
Chamego de braço em braço;
Sem demonstrar embaraço
É rei de todos os cantos
Longe dos tempos de prantos
Ronrona em doce magia,
Livre do medo que havia
Descobriu novos encantos.
Em seu reino de alegria
Agora seu novo lar
E, sem se preocupar,
É uma festa todo dia.
Sorrateiro, ele vigia
Caixotes de papelão
Que viram trono ou mansão
Num cenário de ternura.
Entre salto e travessura
Vive a sua diversão.
(...)
Na casa vive Jurema
A sua companheirona,
Mas também é toda dona
E, por vezes, há dilema,
Pois o ciúme é poema
Guardado no coração.
Biro olha a situação
Com muita diplomacia,
Sabe que no dia a dia
Para os dois tem atenção.
Como é bom vê-lo brincando
De pular e de correr,
Se Jurema interromper
Ele reage miando,
Talvez seja reclamando
Atenção do seu tutor
Ou demonstração de amor
Pelo devotado amigo;
Sabe que, se houver perigo,
Nele encontra um protetor.
Segue…
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
DIA NACIONAL DO LIVRO
O livro é farol aceso
Nos campos do pensamento,
Semeia luz na jornada,
Põe a vida em movimento;
Além de abrir horizontes,
É do saber alimento.
No livro mora a lição
Que a leitura nos ensina:
Construir com sapiência
Uma mente cristalina,
Arar, plantar e colher
Fruto que nunca termina.
Livro na mão é memória,
Um bem que o tempo não leva;
Segue adensando o caminho
Do saber que nos eleva
Ao mundo da sapiência —
É luz no meio da treva.
Do campo à sala de aula,
Do matuto até o doutor,
Todo leitor que se entrega
Descobre um novo sabor:
Ler é beber na nascente
Da fonte de um escritor.
O livro abre mil portas,
Ensina, consola e guia;
Em cada verso revela
Um acorde em poesia.
Celebrar o livro é gesto
De amor e sabedoria.
O vinte e nove de outubro
É dia da afirmação:
O livro é chama que arde
No peito da educação,
Pois faz da palavra acesa
A luz da transformação.
Que o livro siga brilhando
Nos mais diversos setores,
Como ponte criativa
Aos autores e leitores,
E assim plantar liberdade
Entre outros tantos valores.
🔑29 de outubro — Dia Nacional do Livro🔓
O livro é a chave que abre portas para mundos invisíveis.
Em cada página, uma viagem, um encontro, um despertar.
Ler é viver mil vidas num só coração.
— PedrO M.
Editora Ciranda Cultural
Editora Nova Alexandria
Editora Edicon
sábado, 18 de outubro de 2025
A LENDA DO CURUPIRA
A LENDA DO CURUPIRA
Entre as raízes do imaginário brasileiro, o Curupira surge como uma das figuras mais antigas e emblemáticas do nosso folclore. Guardião das florestas, de pés virados e espírito indomável, ele representa a força da natureza diante da ambição humana.
Neste cordel, trago à cena esse ser lendário que, com astúcia e coragem, protege a mata dos que nela entram sem respeito. Sua presença nos recorda que toda vida tem valor e que a terra, mãe generosa, é um bem sagrado.
Neste ano, o Curupira ganha destaque especial: foi escolhido como mascote oficial da COP 30, a Conferência Mundial sobre o Clima, que acontecerá em novembro, na cidade de Belém do Pará — coração pulsante da Amazônia.
A escolha não poderia ser mais simbólica. O Curupira, defensor das árvores e dos rios, é a voz ancestral que clama por reverência à natureza e por um futuro sustentável. Que sua imagem inspire consciência, união e ação em defesa do planeta, pois a floresta, viva, densa e misteriosa, continua a ecoar seu assobio de alerta.
Seguem alguns versos iniciais:
Nas brenhas da mata densa
Onde a sombra faz morada
Habita um ser mandingueiro
De astúcia comprovada,
Que, ao visitante intruso,
Impõe medo como espada.
O seu nome é Curupira,
Da floresta, o guardião,
Defende com maestria
A sua preservação.
Contra agressão ele aplica
O peso da punição.
...(.).
Há quem jure tê-lo visto
Refletido numa fonte,
Outros dizem que ele mora
No cume de um grande monte,
De onde assobia aos pássaros
Que dançam no horizonte.
Seu assobio é segredo
Para sábio decifrar:
Um alerta à alma boa
E jeito de censurar,
Ou, quem sabe, impor respeito
Àquele santo lugar.
O certo é que ele castiga
Quem maltrata passarinho,
Pisoteia a flor-do-campo
Na trilha do mau caminho,
Mas quem ama a natureza
Tem seu respeito e carinho.
É bastante generoso
Para quem faz boa ação,
Respeitando fauna e flora
Na sua preservação,
Ou se lhe deixa um agrado
Em rogo, ou por gratidão.
Muitos deixam nas veredas
Cachaça, naco de fumo,
Flechas e penas de aves
Por agrado e, em resumo,
Para manter os sentidos
E, assim, não perder o rumo.
Pois ele altera cenário,
Desfaz pontes de madeira,
Faz sabotagem na bússola,
Muda o rumo da porteira.
Quem vai lá sem permissão
Se atordoa a vida inteira.
Certa vez, um engenheiro
Ao fazer desmatamento,
Para erguer com ferro e pedra
Mais um grande adensamento,
Viu seu projeto cessar
Sem cumprir o seu intento.
Já um audaz garimpeiro,
Com instinto extrativista,
Atacou rio e floresta,
Mas entrou na sua lista —
Desapareceu na mata
Sem deixar nenhuma pista.
Depois, foi visto vagando
Sem saber aonde ia,
Com o olhar meio perdido
E de memória vazia.
Só lembrou de um assobio —
Mas do resto não sabia.
Quem for adentrar a mata
Deve ter no coração,
Além de respeito e luz,
Infinita gratidão,
Se for movido à ganância
Sofrerá decepção.
Curupira não é bruxo,
Mas conhece encantamento.
Seu saber vem da floresta
E do sagrado elemento,
Só basta um sopro e ele faz
Sossego virar tormento.
Não se rende à vilania
E nem se dobra ao dinheiro,
Diante dos agrotóxicos
Se transforma em embusteiro,
Faz surgir mil armadilhas,
Afugenta o forasteiro.
…(.).
Segue…
Contato com o autor
WhatsApp: 11 99135-1919
Instagram: @poetapedromonteiro
Blogue: pedromonteirocordel.com
Email: pedromonteirocordel@gmail.com
sábado, 26 de abril de 2025
FLORES NA JANELA
de uma flor sob a janela,
no rubro da cor vermelha
meu coração se revela.
PedrO M.
domingo, 20 de abril de 2025
PÁSCOA RENOVADORA
Jesus venceu a morte no madeiro,
Mesmo calado o sofrer não foi em vão;
Ressurgiu como o sol na imensidão,
A brilhar sobre o mundo por inteiro.
Com Ele, a dor é leve travesseiro,
E a cruz, caminho firme de perdão.
É vida que se faz em comunhão,
Pão vivo, milagre caminheiro.
Com a Páscoa, a luzir nossa jornada,
A fé se acende, plena e renovada,
No olhar dos que creem no santo altar.
Por isso, abrace a vida com ternura,
Em Jesus a nutrir fiel postura
De que a vida há de vencer, sem recuar!
Pedro Monteiro
quinta-feira, 17 de abril de 2025
JOÃO GRILO, UM PRESEPEIRO NO PALÁCIO
João Grilo, um Presepeiro no Palácio, publicado em 2010 pela editora Tupynanquim, com ilustrações do mestre Klévisson Viana, foi o meu segundo cordel. Uma história irreverente e bem-humorada, que agora tenho a alegria de anunciar sua nova publicação, pela Rouxinol do Rinaré Edições, mantendo a capa original.
A seguir, compartilho algumas estrofes do texto:
Quero aqui contar em versos
Uma aventura engraçada,
Sobre um bom adivinhão
De astúcia comprovada,
Fazendo revelação
Com uma ave encantada.
Mestre Câmara Cascudo
Fez a catalogação
Desta pérola colhida
Na fonte da tradição,
Fincada lá nos guardados
Da nossa imaginação.
Vem da tradição oral,
Presente em forma de conto,
Atravessando fronteiras —
Pois quem conta aumenta um ponto!
Pessoa de toda idade
Aplaude e pede reconto.
(.)...
Certa vez, um amarelo
Que não tinha eira nem beira,
Enfrentando crise braba
Naquela terra roceira,
Fugiu da seca medonha,
Saindo pela porteira.
Morava com sua mãe,
De nome dona Maria,
Levando vida pacata
Numa pobre confraria,
Porém, aquilo não era
A vida que ele queria.
E, por ser muito franzino,
Com seu esquisito estilo,
Rebento de sete meses,
Nascido com meio quilo,
De serelepe que era,
Foi chamado de João Grilo.
(.)...
Chegando o segundo dia
E logo ao amanhecer,
Outro criado trazia,
Para não desmerecer,
Mais uma farta bandeja
Querendo lhe oferecer.
Quando João Grilo lhe disse:
— O segundo já está visto!
Acometido de susto,
Pois se julgava benquisto,
O criado quase rende
Sua alma a Jesus Cristo.
E gritou: — Sou o ladrão,
Que merece ser punido!
Fui pego pela mandinga
Desse amarelo enxerido.
E apontou o seu comparsa,
Que com ele foi detido.
João ficou muito assustado
Com a repentina sorte,
Por seu motivo de crença,
Recorreu à reza forte,
Dizendo: — Eu hoje escapei
De ver a cara da morte.
O rei ficou satisfeito
Com a sua habilidade,
E pediu que ele ficasse,
Pois tinha necessidade
De ter um adivinhão
Com sua capacidade.
E depois de sete meses
Desfrutando vida boa,
No conforto do palácio,
Não sendo mais um à toa,
Houve a maior confusão
Com o roubo da coroa.
Continua…
sexta-feira, 11 de abril de 2025
CHICÓ, O MENINO DAS CEM MENTIRAS
O folheto Chicó, o Menino das Cem Mentiras, publicado em 2009 pela editora Luzeiro, foi meu primeiro texto. Essa publicação foi a porta de entrada para dezenas de outras, vestidas de livros, livretos e folhetos de cordel. Tudo começou com esse primeiro passo na seara da literatura de cordel.
Além de incentivar essa publicação, o poeta e pesquisador Marco Haurélio também foi o responsável pela ilustração da capa, mantida na edição mais recente do folheto, agora sob a responsabilidade da Rouxinol do Rinaré Edições.
A seguir, compartilho algumas estrofes do texto.
Venho respeitosamente
Pedir a vossa atenção.
Falarei de um Coronel,
Um homem sem coração,
E da astúcia de um menino,
Como segue a narração:
O Coronel atendia
Por nome de Nicanor,
Era um sujeito perverso,
Sem afeto, sem amor,
Que vivia a oprimir
O povo trabalhador.
Aos berros, ele dizia,
Batendo forte no peito,
Que o desígnio da morte
Era, sim, seu maior feito,
E só quem ele queria
À vida tinha direito.
Do jovem ao ancião,
No chicote ele tratava,
E quando escutava um não
A sua ira aumentava,
Mesmo que fosse mulher,
Sem piedade açoitava.
Mas se todos têm seu dia,
O Coronel teve o dele.
Estando preocupado
Com um assunto que ele
Preferia não lembrar,
E assim não se sujar nele.
Buscando descontração
Mandou rodar a notícia,
Prometendo pagar bem
A quem mostrasse perícia
Para lhe contar lorotas
Sem assombro e sem malícia.
A notícia chegou logo
A um certo Zé Conrado,
Que do bruto Nicanor
Era mais um agregado,
E para o povo dali
Homem bastante estimado.
Era pai de sete filhos
Com sua mulher Filó:
Pedro, Raimundo, Maria,
Antonio, Bento e Jacó;
Mais o pequeno Francisco,
Conhecido por Chicó.
Certo dia, Zé Conrado,
Mesmo sem ter intenção
De afrontar o Coronel
Ou lhe fazer agressão,
Jogando conversa fora,
Criou uma confusão.
Disse: — Ao Coronel não vou,
Pois não me sinto obrigado,
Mas se ele quiser, que venha
Ouvir meu pronunciado:
Eu conto até cem mentiras
A qualquer interessado!
Um jagunço, ouvindo aquilo,
Correu com má intenção
De provocar desavença
Em quem é sem coração,
E levou ao Coronel
Como uma provocação.
O Nicanor deu um urro,
Estrebuchando na teia,
Dizendo: — Se não cumprir,
A coisa vai ficar feia,
Ou me conta cem mentiras
Ou perde o couro na peia!
Depois reuniu dez cabras,
Dos mais cruéis que ele tinha,
Gritando: — Isso é pra já
E não quero ouvir gracinha!
Vou mostrar a Zé Conrado
Como se anda na linha.
Na casa desse matuto,
O Zé, que não era besta,
Não perdeu nem um minuto,
Fugindo com sua prole
Atrás de um novo reduto.
Porém Chicó, seu caçula,
Disse: — Pai, deixe qu’eu fico,
Pois se eu amanso esse monstro
O senhor não “paga o mico”,
De provocar uma águia,
Depois cair no seu bico.
E Zé Conrado se foi
Com o coração partido,
No temor de crueldade
Com seu menino querido,
Rogando ao bom padre Cícero
Que ele fosse protegido.
Quando o Coronel chegou,
Já foi logo esbravejando:
— Se o teu pai está em casa,
É bom que vá me falando!
Para ele eu trouxe um relho,
Porém, tem outro sobrando!
Chicó disse ao Coronel
Para ele se abancar:
— Deixe que lhe fale agora
Tudo sem titubear,
Se lhe faltar à verdade,
Pode, sim, me castigar.
Seu Coronel Nicanor,
Ouça o que vou lhe dizer:
O meu pai cria galinhas
E com isso tem prazer
De tratar com muito zelo
Aquilo que vai fazer.
É na contagem dos ovos,
Que ele aumenta o cuidado,
Com capricho, um a um,
Fica lá sempre ocupado,
Zelando do galinheiro
Do jeito mais dedicado.
Certa vez, quando contava,
Ele, com muita clareza,
Sentiu que faltava um,
Recontou pra ter certeza;
Depois saiu procurando
Quem lhe fez a safadeza.
Embrenhando-se na mata,
Bem depressa ele foi vendo
A bitela de uma cobra
O dito ovo comendo,
Foi então qu’ele partiu
Pra riba dela correndo.
Esbarrando frente a frente,
Sua espingarda ele armou,
O tiro não foi certeiro
E a cobra nele avançou,
Como quem diz: “Eu te pego!”
Mas o seu bote falhou.
Seu Coronel, no momento,
Foi a maior confusão:
Ele levantou a cobra
E o ovo caiu no chão,
E dos seus cacos saiu
Um macaquinho gibão!
O macaco pôs um fim
Naquela grande batalha;
Deu um nó cego na cobra,
Em postura de quem ralha,
Na forma de reprimenda
Por sua tremenda falha.
O velho ficou contente,
Pois achou que teve sorte.
Botou uma venda de ovos
Para o macaquinho forte
Cuidar do mesmo jeitinho
Que lhe defendeu da morte.
Acabou não dando certo
Por uma questão de jeito:
Ele perdeu a alegria,
Mas, sem parar o trejeito,
A freguesia pensava
Qu’era falta de respeito.
Já meu pai pensava ser
Algum problema de azia,
Apelando para crenças
Invocou Santa Luzia,
Pois difícil era olhar
Caretas que ele fazia.
Levado a um curandeiro,
Este foi logo dizendo:
— Isto é só prisão de ventre,
É tudo que estou vendo!
Se ele der alguns espirros
Solta o ar que está prendendo.
Foi preparado um rapé,
Feito de fumo torrado,
De cheiro muito gostoso,
Mas quando foi inalado,
O bicho soltou foi pum
Com um barulho lascado.
(.)...
Acabou não dando certo
Por uma questão de jeito:
Ele perdeu a alegria,
Mas, sem parar o trejeito,
A freguesia pensava
Qu’era falta de respeito.
Já meu pai pensava ser
Algum problema de azia,
Apelando para crenças
Invocou Santa Luzia,
Pois difícil era olhar
Caretas que ele fazia.
Levado a um curandeiro,
Este foi logo dizendo:
— Isto é só prisão de ventre,
É tudo que estou vendo!
Se ele der alguns espirros
Solta o ar que está prendendo.
Foi preparado um rapé,
Feito de fumo torrado,
De cheiro muito gostoso,
Mas quando foi inalado,
O bicho soltou foi pum
Com um barulho lascado.
Naquela situação,
Tanto de noite ou de dia,
Qualquer que fosse o cristão,
Perto dele não podia
Respirar por um instante,
De tanto que ele fedia!
Cachorro saiu miando,
Um gato saiu latindo,
Até uma porca velha
Foi logo se escapulindo;
Só as galinhas que não
Pareciam estar sentindo.
É chefe de galinheiro
O seu mais recente emprego,
Só que as galinhas o tratam
Com preferência e apego
E até já andam fazendo
Do velho galo, um pelego.
O meu pai ficou danado!
Não cansa de reclamar,
Que o seu estoque de ovos
Já está pra se acabar:
“Como pode! Macaquinho
Com galinha namorar?”
Acho que falta é vergonha,
Oh! Bichinho presepeiro!
Anda montado no galo
Dia inteiro no terreiro,
Mas quando dá meia-noite
É quem canta no poleiro.
Continua…
segunda-feira, 24 de março de 2025
VIDA E LUTA DE ESPERANÇA GARCIA
O Piauí tem história
Que nos instiga e fascina.
Falarei neste Cordel
Sobre uma grande heroína,
Mulher negra, escravizada,
Da região nordestina.
Foi da pia batismal,
Como Esperança Garcia,
Que se fez raio de luz
Nas trevas da tirania,
Pela destemida luta
Em prol de cidadania.
Fazenda dos Algodões,
Lugar onde ela nasceu,
Pertencer aos jesuítas
Foi este o destino seu;
Registro mais detalhado
Com o tempo se perdeu.
Era o século XVlll,
Quando se deu esse evento;
Cinquenta e um foi o ano
Que marcou seu nascimento,
Ficando o dia e o mês
Ausentes neste momento.
Também é desconhecida
A sua filiação
Pela precariedade
De fonte de informação,
Que possa ser confirmada —
Não há documentação.
Foi mãe aos dezesseis anos,
Decerto inexperiente,
Tendo o segundo e terceiro
Filhos no mesmo ambiente,
Depois deu à luz mais quatro
Em paragem diferente.
Junto aos padres jesuítas
Com quem ela foi criada,
A labuta era constante,
Mas bastante humanizada,
Por isso, teve a façanha
De ser alfabetizada.
Mesmo não tendo na época
Qualquer amparo legal,
Ensinar cativo a ler
Era um ato marginal,
Por ser uma mulher negra;
Um agravante penal.
Mas o destino compôs
Os traços da sua sina
Com altivez expressada
Desde os tempos de menina,
Hoje presença luzeira
Na condição feminina.
(...).
Buscando novos caminhos,
Por um engenhoso plano,
Dom José I fez
Um edito soberano
Que depôs os Jesuítas,
Apesar do grande dano.
Assim, Marquês de Pombal
Impôs seu ponto de vista,
No tocante à catequese,
Postura protagonista
Da Coroa Portuguesa
Com viés Iluminista.
Mesmo os Sacerdotes tendo
Um papel fundamental
Na Catequese e na Ordem
No Brasil colonial,
Inda assim, foram expulsos
Por capricho de Pombal.
Passaram-se oito anos
De intensa transformação:
Bens pertencentes aos padres
Com nova destinação,
A Corte é quem nomeava
O executor da gestão.
Esperança estava bem
No lugar que foi criada,
Na cozinha e na limpeza,
Sempre muito dedicada,
Além de cuidar dos filhos
Depois da sua jornada.
Convivendo em harmonia
Na casa do seu senhor
José Esteves Falcão,
Bom administrador
Do lugar que ela servia
Com dedicado labor.
Uma inesperada ação
De gestão reformulada,
Para a Fazenda Poções
Esperança foi levada,
Onde, impiedosamente,
Passou a ser maltratada.
No momento em que chegou,
Já percebeu que teria
Um clima de turbulência
Na pauta do dia a dia,
Mesmo sem pensar na soma
Do preço que pagaria.
Ela e duas companheiras
Viveram grande terror.
Capitão Vieira Couto,
Na condição de feitor,
Era um sujeito perverso
Do coração sem amor.
Nas garras deste tirano,
Por ser cativa e mulher,
Ele a tratava igualmente
Se fosse um traste qualquer;
Sempre bradava dizendo:
— É do jeito que eu quiser!
Os maus-tratos eram tantos,
Causando dor e tormento.
O maldito capitão
Ria do seu sofrimento.
Déspota juramentado,
Nem escutava argumento.
Esperança era assim mesmo,
Uma mulher instigante.
Quanto mais a conhecemos
Nos surpreende o bastante,
Tendo nos brindado aqui
Com este feito brilhante.
Nesta carta-petição,
Além de voz pioneira,
Sua determinação
Faz tremular a bandeira
Do Piauí, que é Brasil,
E berço desta guerreira.
A Carta:
“Eu sou uma escrava de Vossa Senhoria da administração do capitão Antônio Vieira do Couto, casada. Desde que o capitão lá foi administrar que me tirou da fazenda algodões, onde vivia com o meu marido, para ser cozinheira da sua casa, ainda nela passo muito mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo peada; por misericórdia de Deus escapei. A segunda, estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha os olhos em mim, ordenando que eu diga ao procurador que mande para a fazenda de onde me tirou, para eu viver com meu marido e batizar minha filha”.
De V.S. ª. sua escrava, Esperança Garcia”.
*Notas: Gonçalo Lourenço Botelho de Castro - Governador da Capitania do Piauí.
Poções - Fazenda administrada pelo capitão Antônio Vieira do Couto, de onde Esperança Garcia fugiu.
ARTE E CULTURA
ORGULHO NORDESTINO
“Orgulho Nordestino”, fruto de mais uma parceria minha com Nilza Dias, é um tributo às raízes, à memória e à força de um povo que transfor...
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Narrado em cordel por Pedro Monteiro, Xilo de Lucélia Borges e apresentação de Marco Haurélio. Cumade Fulozinha, como todas as criatu...
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Uma publicação da Editora IMEPH, com apresentação do poeta Rouxinol do Rinaré. Um coletivo de treze poetas compõe esta obr...
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