A LENDA DO CURUPIRA
Entre as raízes do imaginário brasileiro, o Curupira surge como uma das figuras mais antigas e emblemáticas do nosso folclore. Guardião das florestas, de pés virados e espírito indomável, ele representa a força da natureza diante da ambição humana.
Neste cordel, trago à cena esse ser lendário que, com astúcia e coragem, protege a mata dos que nela entram sem respeito. Sua presença nos recorda que toda vida tem valor e que a terra, mãe generosa, é um bem sagrado.
Neste ano, o Curupira ganha destaque especial: foi escolhido como mascote oficial da COP 30, a Conferência Mundial sobre o Clima, que acontecerá em novembro, na cidade de Belém do Pará — coração pulsante da Amazônia.
A escolha não poderia ser mais simbólica. O Curupira, defensor das árvores e dos rios, é a voz ancestral que clama por reverência à natureza e por um futuro sustentável. Que sua imagem inspire consciência, união e ação em defesa do planeta, pois a floresta, viva, densa e misteriosa, continua a ecoar seu assobio de alerta.
Seguem alguns versos iniciais:
Nas brenhas da mata densa
Onde a sombra faz morada
Habita um ser mandingueiro
De astúcia comprovada,
Que, ao visitante intruso,
Impõe medo como espada.
O seu nome é Curupira,
Da floresta, o guardião,
Defende com maestria
A sua preservação.
Contra agressão ele aplica
O peso da punição.
...(.).
Há quem jure tê-lo visto
Refletido numa fonte,
Outros dizem que ele mora
No cume de um grande monte,
De onde assobia aos pássaros
Que dançam no horizonte.
Seu assobio é segredo
Para sábio decifrar:
Um alerta à alma boa
E jeito de censurar,
Ou, quem sabe, impor respeito
Àquele santo lugar.
O certo é que ele castiga
Quem maltrata passarinho,
Pisoteia a flor-do-campo
Na trilha do mau caminho,
Mas quem ama a natureza
Tem seu respeito e carinho.
É bastante generoso
Para quem faz boa ação,
Respeitando fauna e flora
Na sua preservação,
Ou se lhe deixa um agrado
Em rogo, ou por gratidão.
Muitos deixam nas veredas
Cachaça, naco de fumo,
Flechas e penas de aves
Por agrado e, em resumo,
Para manter os sentidos
E, assim, não perder o rumo.
Pois ele altera cenário,
Desfaz pontes de madeira,
Faz sabotagem na bússola,
Muda o rumo da porteira.
Quem vai lá sem permissão
Se atordoa a vida inteira.
Certa vez, um engenheiro
Ao fazer desmatamento,
Para erguer com ferro e pedra
Mais um grande adensamento,
Viu seu projeto cessar
Sem cumprir o seu intento.
Já um audaz garimpeiro,
Com instinto extrativista,
Atacou rio e floresta,
Mas entrou na sua lista —
Desapareceu na mata
Sem deixar nenhuma pista.
Depois, foi visto vagando
Sem saber aonde ia,
Com o olhar meio perdido
E de memória vazia.
Só lembrou de um assobio —
Mas do resto não sabia.
Quem for adentrar a mata
Deve ter no coração,
Além de respeito e luz,
Infinita gratidão,
Se for movido à ganância
Sofrerá decepção.
Curupira não é bruxo,
Mas conhece encantamento.
Seu saber vem da floresta
E do sagrado elemento,
Só basta um sopro e ele faz
Sossego virar tormento.
Não se rende à vilania
E nem se dobra ao dinheiro,
Diante dos agrotóxicos
Se transforma em embusteiro,
Faz surgir mil armadilhas,
Afugenta o forasteiro.
…(.).
Segue…
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