“Orgulho Nordestino”, fruto de mais uma parceria minha com Nilza Dias, é um tributo às raízes, à memória e à força de um povo que transforma resistência em poesia. Publicado pela Rinaré Edições e enriquecido pela delicadeza visual de Silva Barros, este livro celebra o Nordeste como lugar de pertença, de histórias encantadas e de uma cultura que pulsa viva no coração do Brasil.
Estrofes iniciais:
Solicitamos licença
Para lhes apresentar
Um Nordestino que migra
Sem se “desnordestinar”,
Nutrindo firme postura
Em prol da sua cultura,
Buscando se autoafirmar.
Encarna esse personagem
A saga da migração:
Bravura, coragem, luta,
Conquista e decepção;
Que, por vezes, o consome,
Mas é forte até no nome —
José Francisco Romão.
Antes de tudo, é um forte,
Gente de sangue na veia,
Compondo esta narrativa
E o conteúdo da teia,
Retrata uma condição
Entre o sentir e a razão,
Em verve que não falseia.
(...).
O mar de modernidades
Não faz a cabeça dele.
Tem firmes convicções,
Sendo o natural que ele
Como um bom cabra-da-peste,
Mesmo longe do Nordeste
Carregue o Nordeste nele.
Assim José vai tecendo
O seu estilo de vida,
Ante aos flashes midiáticos
De propaganda exibida,
Teima, tal qual vaga-lumes,
Para manter os costumes
Da sua terra querida.
Ao recordar com ternura
O seu tempo de menino,
As festas de tradição
De Reisado e do Divino.
Das tantas coisas singelas,
Uma beleza, entre elas,
Era o festejo junino.
Terreiro todo enfeitado,
Gente em volta da fogueira,
Quadrilha, dança e poesia,
Toada de cirandeira,
Xaxado, xote e baião,
Biriba, traque e rojão
Animando a brincadeira.
Ao som de um rádio de pilhas
Alegrando a tardezinha,
Junto ao barulho de bode,
Cabrito, porco e galinha;
A faixa sintonizada
Vinha da antena instalada
Sobre a casa de farinha.
Pureza e simplicidade
Num ambiente gostoso,
Povo pacato e feliz
De espírito generoso.
Quer no terreiro ou na rua,
Ouvia-se, em noites de lua,
As histórias de Trancoso.
Longe, vê-se a balançar,
Batendo o pé na parede,
Indo pra lá e pra cá
No vai e vem de uma rede,
O calor se arrefecendo,
Tal fosse a água descendo
Na goela ardendo de sede.
Ouvindo um canoro canto
Do maestro sabiá,
Comendo milho cozido,
Bolo, cuscuz, mungunzá,
E uma famosa iguaria
Conhecida na Bahia
Por nome de vatapá.
Num caldo bem temperado,
Delicioso feijão
Misturado com farinha,
Amassado com a mão,
Feito com muito carinho,
Resultando num bolinho
Chamado de capitão.
E reluta em regressar,
Dessa viagem tão boa…
Se viu montar burro bravo,
Tomar banho de lagoa,
Mas retorna do passado
No compasso alvoroçado
Que é da terra da garoa.
Pela escola que é a vida
José chegou diplomado,
Mas nem tudo que aprendeu
Tende a ser aproveitado —
Benzido pra catimbó
Nem mijada de potó
Em Sampa não é usado.
As diferenças são tantas
Entre as estranhezas mil,
Que um belo quarto de porco
É chamado de pernil;
Pela linguagem que tece,
Por vezes, nem se parece
Ser este o mesmo Brasil.
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@poetapedromonteiro

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