quarta-feira, 26 de junho de 2019
sexta-feira, 21 de junho de 2019
LIVRE E SOLTO
Pelas asas de um condor
numa atitude serena,
se a liberdade é plena
a vida tem mais valor!
domingo, 26 de maio de 2019
PRISÃO SEM CADEADO
A prisão nem sempre é
com grades e cadeados,
mas de sentimento e até
pelos remorsos guardados!
PedrO M.
CRIVOS INVERSOS
Nos alinhavos dos versos
uma certeza me atiça:
Somente os crivos inversos
bordarão nossa justiça!
PedrO M.
quarta-feira, 8 de maio de 2019
MÃE TERRA
A flor antecede o fruto,
Numa
safra divinal,
Mas
não é prova cabal
Da
derrocada do bruto,
Tampouco
salvo conduto
Para
quem é negligente.
Pois
só o benevolente
Vai
fazer acontecer
E,
assim, a mãe terra ser
Jardim
da nossa existência!
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
CUMADE FULOZINHA
Cumade Fulozinha, como todas as criaturas mágicas do folclore brasileiro, assume formas variadas a depender da zona em que ocorrem suas aparições. Os seus traços também variam, mas as atribuições como duende fêmea, protetora dos animais selvagens de pequeno porte, punidora dos caçadores vorazes, são praticamente as mesmas em todo canto. Deriva, logicamente, do mito primitivo do Caipora, mas ganhou características próprias ao longo do tempo. Caapora, palavra tupi, significa “habitante da mata” e, por muito tempo, pode ter sido simplesmente uma designação genérica para as aparições informes das matas brasileiras, denunciadas pelo sibilar do vento, pelo estalo de galhos e pelo medo que incutia aos caçadores (Ver Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos mitos brasileiros, p. 115). A Caipora fêmea parece ser uma adaptação tardia, assim como a Matinta amazônica, condicionada pela letra a (desinência que, na língua portuguesa, indica o gênero feminino).
A meio caminho entre o Caipora e a Cumade Fulozinha fica a Flor do Mato paraibana, de longa cabeleira loira, apreciadora de fumo mapinguinho, condutora da caça miúda, inimiga feroz dos caçadores impenitentes. Detesta pimenta. Açoita com seus cabelos os caçadores que lhe negam o tributo do fumo ou que abatem mais animais que o necessário à sua subsistência. Os cachorros percebem sua chegada antes de seus donos. Seus assobios desconcertam os caçadores, que ficam “variados”. Pode, como o Saci, matar os profanadores de seus domínios, fazendo-lhes cócegas nos pés por horas seguidas. Chamam-na “cumade” (comadre), estabelecendo-se um vínculo mágico, um pacto, assim como ao Negro d’Água, do rio São Francisco, chamam Compadre d’Água, num misto de medo e respeito. A Zona da Mata pernambucana, encolhida pelo avanço das usinas de cana de açúcar, é o habitat onde há maior registro da presença da Cumade Fulozinha, metamorfose final do informe Caipora, que tanto assombrou os primeiros cronistas europeus.
Pedro Monteiro, poeta piauiense, natural de Campo Maior, traz-nos, em cordel, uma interessante variante a partir de suas memórias de infância e juventude: Fulozinha é uma menina que, perseguindo um beija-flor, perdeu-se nas matas, morreu e virou visagem. Semelhante à concepção do Caipora como alma de “índio pagão”, possivelmente uma esperteza dos catequistas incorporadas pelos supersticiosos. Ela surge num redemoinho, como o Saci, e sua presença sobrenatural, muitas vezes, provoca danos que vão além do pavor que insufla. O sujeito para quem aparece fica “encaiporado”, possuidor de má sorte, pé frio, como dizem hoje em dia. Terá sorte, no entanto, quem ler este folheto de cordel que lança luzes sobre um assunto sempre fascinante e tão pouco explorado pela poesia bárdica do Nordeste.
Marco Haurélio
Estrofes iniciais:
Lembro de contos narrados
Pela minha vovozinha,
Sendo alguns remanescentes
Do tempo da Carochinha.
Nessa mesma trajetória
Ela contava a história
Da Cumade Fulozinha.
Eu só tinha doze anos,
Mas desde os oito, caçava,
Por isso dava atenção
Ao causo que ela contava.
Sempre ali de prontidão
Ouvindo com emoção,
Chega nem pestanejava.
(…).
Fulozinha aos sete anos
Pela astúcia já prendia
A atenção dos adultos,
Pois seu tino possuía
Destreza de liberdade,
Com muita sagacidade
Num mundo de fantasia.
Fulozinha aos sete anos
Pela astúcia já prendia
A atenção dos adultos,
Pois seu tino possuía
Destreza de liberdade,
Com muita sagacidade
Num mundo de fantasia.
Foi assim que um certo dia,
Por arte de um feito seu,
Ao seguir um beija-flor,
Na floresta se perdeu,
Virou estrela cadente,
Por arte de um feito seu,
Ao seguir um beija-flor,
Na floresta se perdeu,
Virou estrela cadente,
Reaparecendo somente
Quando o encanto se deu.
Como espectro, até hoje,
Sua fama é destacada,
Age por toda a floresta,
Quando o encanto se deu.
Como espectro, até hoje,
Sua fama é destacada,
Age por toda a floresta,
Mesmo de face envultada,
Sempre promovendo o medo,
Peraltice e arremedo,
Na forma de presepada.
(…).
Nas palavras da vovó,
Depressa me recordei
De uma vez numa caçada,
Um vexame que eu passei,
Foi noitada cabulosa,
Além de escura, chuvosa
E do assombro lhe contei:
— Saímos, eu e meu pai,
Para mais uma caçada,
Até aquele momento
A noite estava estrelada,
Porém, bastou um instante,
O céu mudou de semblante
Com lampejo e trovoada.
Nossa cachorra Baleia
Era a melhor garantia
De sucesso na empreita
Pela sua valentia.
O tatu que ela acuava,
Depois que o dominava,
Por entre os dentes latia.
Seguíamos por uma trilha
No clarão do candeeiro,
Quando ouvimos alaridos
Por detrás de um imbuzeiro,
Nossa cachorra gania,
O prenúncio parecia
Arte de um catimbozeiro.
Como se estivesse presa
Por armadilha certeira,
O ressoar das lapadas
Igual de uma açoitadeira.
A pobre se maldizia,
Tudo aquilo parecia
Não ser nada brincadeira.
Após a tremenda surra,
Ela chegou assombrada,
E deitou-se em nossos pés
De uma forma acabrunhada,
Como quem diz “me acuda”,
Implorando por ajuda
Para não ser açoitada.
(Segue)...
Sempre promovendo o medo,
Peraltice e arremedo,
Na forma de presepada.
(…).
Nas palavras da vovó,
Depressa me recordei
De uma vez numa caçada,
Um vexame que eu passei,
Foi noitada cabulosa,
Além de escura, chuvosa
E do assombro lhe contei:
— Saímos, eu e meu pai,
Para mais uma caçada,
Até aquele momento
A noite estava estrelada,
Porém, bastou um instante,
O céu mudou de semblante
Com lampejo e trovoada.
Nossa cachorra Baleia
Era a melhor garantia
De sucesso na empreita
Pela sua valentia.
O tatu que ela acuava,
Depois que o dominava,
Por entre os dentes latia.
Seguíamos por uma trilha
No clarão do candeeiro,
Quando ouvimos alaridos
Por detrás de um imbuzeiro,
Nossa cachorra gania,
O prenúncio parecia
Arte de um catimbozeiro.
Como se estivesse presa
Por armadilha certeira,
O ressoar das lapadas
Igual de uma açoitadeira.
A pobre se maldizia,
Tudo aquilo parecia
Não ser nada brincadeira.
Após a tremenda surra,
Ela chegou assombrada,
E deitou-se em nossos pés
De uma forma acabrunhada,
Como quem diz “me acuda”,
Implorando por ajuda
Para não ser açoitada.
(Segue)...
Contato com o autor:
sábado, 25 de agosto de 2018
O TOSTÃO DA DISCÓRDIA
Escrevi em parceria com o Poeta Marco Haurélio O TOSTÃO DA DISCÓRDIA, Cordel publicado pelo selo Rouxinol do Rinaré Edições, a capa é de Eduardo Azevedo.
Estrofes iniciais:
Avareza é, para a Igreja,
Um pecado capital.
Teimosia é um defeito,
Como não há outro igual
E a esperteza é virtude
Que não conhece rival.
Nesse mundo desconforme,
Manda aquele que mais tem.
O pobre passa apurado
Para juntar um vintém,
Chorando a falta de sorte,
Até que um dia ela vem.
Por isso, vamos contar
Uma história interessante,
Sucedido há muito tempo
Numa paragem distante,
E versa sobre a avareza
De um rico comerciante.
O seu nome, João Caiado,
Maioral da região,
Quando alguém lhe perguntava
Segredos da profissão,
Depressa ele respondia:
— Tem que saber dizer não!
Para ele era a palavra
Sua maior garantia.
Se alguém lhe devesse algo,
Jamais o perdoaria
Enquanto não recebesse,
Qualquer que fosse a quantia.
(.)...
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