sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A LENDA DO GUARANÁ

A lenda do Guaraná tem origem na região norte do Brasil e é uma das mais populares do nosso folclore.
O guaraná é um fruto originário da Amazônia e, segundo a lenda dos povos Sateré-Mawé, representa os olhos de um curumim que foi mordido por uma serpente quando estava apanhando frutos na floresta e veio a falecer.
A Lenda do Guaraná foi publicada pela Rouxinol do Rinaré Edições/capa de Eduardo Azevedo.

Estrofes iniciais:

O folclore brasileiro,

De existência secular,

Tem no universo lendário 

Um meio de preservar

Boa parte dos valores 

Da cultura popular.


Povo Sateré-Mawé, 

Herdeiro de muitas crenças, 

Vem da tradição oral

Suas múltiplas sabenças

No cuidado com o corpo 

E proteção de doenças. 


(...).

Após banhar-se nas águas 

Do mais sublime desejo,

Não tardou a engravidar, 

No fulgor daquele ensejo,

Só bastou um beija-flor 

Num flerte, tascar-lhe um beijo.


Com as bênçãos de Tupã,

Pelo seu merecimento,

Por ter coração bondoso

Não tardou o nascimento, 

Na teia da evolução,

Do mais vistoso rebento.


Ele crescia mimoso, 

O mais querido dali,

Apreciador de frutas

Igual um Araguaí, 

E prontamente atendia

Pelo nome de Aguiry. 


Era um curumim saudável,

Cheio de amor e alegria, 

No coração da floresta

Onde se desenvolvia.

Sempre muito festejado 

Na medida em que crescia.


(...).


E, assim, num certo dia, 

Quando Aguiry caminhava 

Entre os pés de castanheiros

Uma cobra lhe espreitava,

Após um bote certeiro 

O seu veneno o matava.


Com isso, Yurupari, 

A face da crueldade,

Pôs os seus olhos na aldeia

Disseminando maldade 

Ao ceifar o curumim

Ainda na flor da idade.


Aguiry foi sepultado, 

Naquela mesma manhã,

Num lugar bastante calmo

Perto da tabapuã,

Seu corpo para Mãe-Terra

E a alma para Tupã.


Após esse acontecido 

Houve grande comoção. 

A morte daquele jovem 

Foi de cortar coração, 

Mas o feito deu lugar 

A pronta reparação. 


Fizeram da sepultura 

Um igara de tristeza,

O pranto daquele povo

Convertido em correnteza 

Sobre um chão abençoado 

Por obra da natureza. 


Com o passar de algum tempo 

Sua mãe observou 

Na fronte da sepultura 

Que uma plantinha brotou,

Em forma de trepadeira

Cresceu e frutificou.


Ao dar as primeiras flores 

A planta foi visitada

Por abelhas operárias

Numa missão delicada, 

Pela polinização 

Ela foi multiplicada.


Cada fruto apresentou 

Um traço muito bem-feito:

Uma casca avermelhada,  

Sementes pretas do jeito

Dos olhinhos de Aguiry,

Num paralelo perfeito. 


Segue…


Contato com o autor:

WhatsApp: 11 99135 1919

E-mail: pedromonteirocordel@gmail.com



sábado, 3 de junho de 2023

LENDA DA CARNAUBEIRA

 


LENDA DA CARNAUBEIRA 

 — árvore da providência —  

 Reza a lenda indígena, que uma tribo vivia feliz. O sol aquecia as cabanas, amadurecia os frutos e de vez em quando as nuvens cobriam o sol e a chuva caía, molhando as plantações, aumentando os rios. Mas depois o sol começou a ficar muito quente, muito quente, prenunciando uma grande tragédia. 

Foi assim que tudo começou.

Apaixonado que sou por lendas, especialmente, indígenas, assuntei, assuntei e escrevi a presente composição, narrada em Cordel e publicada pelo selo Rouxinol do Rinaré Edições, com ilustração de capa de Eduardo Azevedo.


Estrofes iniciais:


Dentre as mais nobres riquezas

Desta terra brasileira,

Falarei sobre a história

De uma encantada palmeira,

Hoje conhecida como

Lenda da Carnaubeira.


Reza a lenda que uma terra

Rica de paz e harmonia,

Suas matas vicejavam

Depois que a chuva caía,

Tudo que fosse plantado

Rompia a cova e crescia.


Com o passar de algum tempo

Tudo começou mudar,

Impiedosamente o sol

Fazia a terra secar,

Com isso o povo dali

Viu seu mundo desabar.

(...).

E o Curumim perguntou:

— O que devo observar?

Mais uma vez ela disse

Ouça o que vou lhe falar:

— “A natureza é a única

Fonte capaz de salvar.


Talhe meu tronco e a seiva

Irá matar tua sede,

Das minhas palhas e talos

Tecerá a tua rede,

E te servirão também

De cobertura e parede.


O talo fino da folha

Te servirá de peneira,

A parte nobre do olho

Para construir esteira;

Meu tronco em tua cabana

Pousará de cumeeira.


Dou resistência na cerca,

No formato de mourão,

Sou suporte impermeável 

No casco de embarcação,

Estou no cesto de palha,

Vassoura, abano e surrão.


Eu sou viga, caibro e poste,

Também a ripa possante,

Meu pó se transforma em cera,

Verniz e lubrificante.

E dentre os produtos fármacos,

O pellet e o laxante.


Segue…


Contato


com o autor:

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quarta-feira, 10 de maio de 2023

A LENDA DO AÇAÍ


Minha mais recente publicação foi A Lenda do Açaí, pelo selo Rouxinol do Rinaré Edições, com ilustração de capa de Eduardo Azevedo.

Estrofes iniciais:

O cabedal de saberes
Da cultura popular
Tem fantasia e mistério
Capaz de nos encantar,
Como fonte de riquezas
Jamais irá se esgotar.

Dentro do legado indígena
Examinei, recolhi
Nas gavetas da memória,
Nos conteúdos que li,
Para narrar em cordel
Sobre A Lenda do Açaí.

Há muito tempo passado
A Amazônia brasileira,
Muito além de seus mistérios,
Mata virgem por inteira,
Habitava o povo Itaki
Nação exímia guerreira.

Naquela densa floresta,
Como caprichos do bem,
Harmonia lhe era farta
E alimentação também.
Este lugar hoje em dia
Abriga a Grande Belém.

Um território abundante
Em riquezas naturais,
Onde o seu povo nutria
Poderes sensoriais,
Sabedoria pautada
Nos valores ancestrais.

(...).

Desesperada Iaçã,
Em razão dessa maldade,
Ao perder a sua cria
Num rito de crueldade,
Nem podia mensurar
Que aquilo fosse verdade.

Agora ela estava ilhada
Num mundo de dissabor,
Achava o seu habitar
Grande deserto de amor,
Sem a alegria de outrora,
Era só tristeza e dor.

Só depois de muitas luas,
Reclusa e desconsolada,
Chorando por sua filha
Que fora sacrificada,
Como se houvesse em seu peito
Uma flecha atravessada.

Clamou: — Ó grande Tupã
Te suplico um tempo novo
Com alimento abundante
Para todo o nosso povo,
E que a dor do sacrifício
Não contenha o teu aprovo!

No luar da mesma noite
Um encanto aconteceu,
Avistando a sua filha
A mãe depressa correu,
Mas ao lhe estender os braços
Ela desapareceu.

…segue…

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

FLOR E PAIXÃO






























Na querença dessa lida,
Pelas plagas da emoção,
Nutro no meu coração
A mais singela e querida
Flor que faz a minha vida
Ser uma doce paixão. 

                        PedrO M.


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

SAUDADES DE CAMPO MAIOR

 










Pelo prisma da saudade
eu faço um registro aqui,
revisitando a cidade —
Campo Maior - Piauí!


*Imagem capturada em 11/06/2022, por Waldirene Monteiro.

sábado, 2 de abril de 2022

DOUTOR EM ACENO


 ☝️🤘🤟👊



Num reino distante, o rei havia mandado seu filho ao estrangeiro para que estudasse e aprendesse muitas sabedorias.  Após diplomar-se em diversos saberes, incluindo a comunicação por sinais, o moço voltou para sua terra natal, onde foi exaltado e aclamado como Doutor em Aceno. Com a notícia da chegada do filho, o rei mandou preparar um grandioso banquete, numa festa repleta de ilustres convidados, escolhidos a dedo para a ocasião.  Além das autoridades, intimaram o rapaz mais sabido daquele reino para se medir com o filho do rei. Não havia nada de reconhecimento no tal convite a não ser enaltecer o Doutor. No dia da festa, os lugares foram distribuídos de forma que o moço tomasse assento à mesa em frente ao príncipe. Ocorre que, faltando poucas horas para o evento, o tal moço foi acometido de uma terrível dor de barriga. Medo puro. O que fazer?

Por sorte, ou por azar — vamos saber daqui a pouco —, ele tinha um irmão gêmeo. Cara de um, focinho do outro, como lá dizem. Na família, o pobre rapaz atendia pela alcunha de Doido. E, para se safar da vergonha, o sabido mandou o irmão Doido em seu lugar. O rapaz chegou ao palácio quando estavam todos tomando assento e foi encaminhado para o local reservado para ele, em frente ao maioral em sabedoria.

Almoçaram, do bom e do melhor e, depois do cafezinho, enquanto aguardavam o licor digestivo, o rei pediu que todos fizessem silêncio. Chegara afinal o grande momento: a demonstração de superioridade pelo Doutor de Aceno. Toda a atenção da audiência agora estava voltada para a interação entre os dois grandes rivais. Eis que o Doutor olhou para o Doido e levantou um dedo.  O Doido mirou nos olhos do Doutor e levantou dois dedos. Em seguida, o Doutor levantou três dedos, e o Doido, num movimento brusco, fechou a mão e ergueu o punho.

Naquele momento, ouviu-se uma estrondosa salva de palmas. Jornalistas e curiosos cercaram o Doutor para saber o conteúdo do diálogo entre ele e seu interlocutor.  O Doutor não se fez de rogado:

—  Olhe, fiquei feliz, pois trata-se de um homem que, além de sábio, está atento aos preceitos religiosos.

— Mas qual o teor do que foi dito nos acenos?

Empostando a voz, o Doutor esclareceu:

— Ora, eu levantei um dedo em louvor ao nosso único e verdadeiro Deus-Pai! Ele, sabiamente, levantou dois dedos, destacando a presença de Jesus, o Filho. Foi nesse momento que, percebendo o seu apreço pelo Providência Divina, levantei três dedos, invocando a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Ele ergueu o punho aos céus para dizer que as Três Pessoas são a essência de Deus.

Mais uma vez, o Doutor foi aclamado com outra salva de palmas.

Os curiosos agora voltavam suas atenções para o outro lado da mesa. Quando alguém indagou do conteúdo do “diálogo”, o Doido respondeu:

— Diálogo uma pinoia! Esse homem é muito grosseiro. Veja só, nem bem termina o almoço, ele vem com um dedo ameaçando furar meu olho. Pois bem, armei logo dois dedos contra os olhos dele e o desafiei: vem! Não é que o peste arma três dedos, querendo acertar meus olhos e enfiar um na minha boca! Pois bem, eu disse para ele que, em resposta, levaria um soco nas fuças.

E ficou o dito pelo não dito.

Da festa eu trouxe três pedaços de bolo, mas, quando passava no Escorrega lá vai um, levei o primeiro escorregão; lá se foi um pedaço. Andei mais um pouco e novamente escorreguei; lá se foi o segundo pedaço. Depois, como não escorreguei mais, trouxe o último pedaço para... você!

 

Fonte: Pedro Monteiro, São Paulo (SP).

Proveniência: Campo Maior, Piauí.

 

Classificação: ATU 924 (Discussão em linguagem gestual)

São raros os registros deste conto em Portugal (duas versões) e no Brasil (quatro se contarmos o subtipo B). O conto, no entanto, vagueia pelo mundo há pelo menos 25 séculos, como dá a entender o relato, que hoje soa como uma anedota, de Heródoto, sobre os presentes que os reis citas enviaram a Dario I, soberano persa, que, perigosamente, se aproximava de suas possessões. O arauto entregou ao famoso monarca um pássaro, um rato, um sapo e cinco flechas. Inquirido pelos persas sobre o significado de tão estranhos presentes,  o mensageiro desculpou-se, afirmando que sua missão era tão somente entregá-los. O rei Dario, adiantando-se, argumentou que os citas estavam se rendendo, pois lhe ofereciam terra e água. Trocando em miúdos: o rato nasce na terra e come o mesmo que os homens, o sapo vive na água, um pássaro se assemelha a um cavalo e as flechas eram símbolos de poder militar. Um conselheiro do rei não concordou e deu uma explicação mais convincente: se os persas não se tornassem pássaros e voassem para o céu, ou imitassem ratos e se enterrassem no chão, ou sapos e pulassem nos lagos, nunca mais voltariam para casa, e morreriam varados por flechas (Cf. Graham Anderson, Ancient Fairy and Folk Tales: An Anthology. New York, Routledge, 2019, cap. XII).

                                 Classificação: Poeta e Pesquisador Marco Haurélio.

 


VOCÊ TAMBÉM CONTOU DA VACA?

 













Dizem os mais velhos que um homem desonesto criava um papagaio esperto como mais não podia ser. Esse dito homem, um dia, resolveu abater uma vaca de propriedade de um compadre seu. Como o dono da vaca era também seu vizinho, ele não pôde estender nem o couro nem a carne no varal, como geralmente se faz. Assim, sacrificou a maior parte da carcaça, aproveitando somente as carnes mais nobres, enterrando o resto numa grande vala. O papagaio, bicho que tudo observa, ficou de olho no malfeito. 

Correndo a notícia do sumiço da vaca, o espertalhão, quando indagado pelo compadre se sabia de algo, desconversou. O papagaio tagarela não deixou barato: — Paco-papaco! Tira a vaca do buraco! Mesmo o sujeito negando, o compadre saiu dali de orelha em pé. Aí formou-se uma comitiva, com o dono da vaca roubada, o delegado e o padre, para interrogar o papagaio, e a desgraceira foi feita. O cabueta apontou o lugar, onde a comissão encontrou o couro e o restante da carcaça.


O sujeito livrou-se da cadeia, perdoado que foi por seu compadre, homem de bom coração. Ainda assim, precisou se desfazer de outros animais para cobrir o custo da vaca.

Acontece que, quando terminou todo esse frejo, já era noite e caía uma forte chuva. O malandro resolveu descontar toda a raiva no papagaio; já que fora depenado pelo compadre, ele agarrou o bicho, tirou-lhe todas as penas e o jogou na chuva. O pobre louro, depois de muito pelejar, aproximou-se do forno, que ficava debaixo de uma área coberta, e ali se quedou, pensativo. Naquele momento, se aproximou do forno um pinto que havia caído do poleiro, daqueles do pescoço pelado e quase sem penas pelo corpo. 

Vendo aquele estrupício, piando de fazer dó, o papagaio perguntou: — Você também contou da vaca?


Se é mentira ou verdade, não sei; do jeito que ouvi, eu contei!


Pedro Monteiro, São Paulo (SP).

Proveniência: Campo Maior, Piauí.

Classificação feita por Marco Haurélio: ATU 237 (O papagaio falante).


O VELHO E SEUS NETOS SONHADORES




Numa comunidade sertaneja, um velho reuniu os seus netos ao redor de uma fogueira para saber os seus planos, preocupado que estava com o futuro deles. O mais novo, adiantando-se, começou a desfiar o seu rosário: — Meu avô, irei até a casa de minha madrinha para buscar um ovo de galinha que ela me deu. Marcarei esse ovo a carvão e porei embaixo da galinha. Quando chocar, nascerá uma franga, que, quando crescer, porá uma ninhada, resultando em muitos pintos, que transformarei em capões e trocarei por uma leitoa. Depois de engordada a leitoa, trocarei por uma cabra, que dará crias o suficiente para trocar por uma besta, que tratarei com muito zelo. Vou lavar, escovar, trançar o rabo, pôr esteira no seu lombo e, orgulhoso dos bons negócios que fiz, irei rever minha madrinha para mostrar a ela o apurado com o ovo e lhe tomar a bênção. — Muito bem! Isso é que é sabedoria! — disse o avô, encantado com a habilidade do neto. Depois, olhando para outro neto, perguntou o que ele pensava em fazer. O menino, que não ganhara nada de sua madrinha, respondeu: — Como minha madrinha não me deu ovo algum, quando meu irmão não estiver atento, vou pegar a besta e ir até a casa dela. Antes de chegar, me esconderei atrás da moita enquanto ela queima madeira no quintal para fazer carvão. Quando ela estiver bem distraída, eu encalco a espora, meto o chicote na besta e risco na direção dela, para dar aquele susto, pois assim eu me vingo por não ter ganhado um ovo também.


O velho arretou-se com aquela fala e, pegando um tição, deu no menino, que, sem entender 

nada, perguntou o que havia feito para merecer o castigo. O avô, então, explicou: 

— Isso é pra você aprender e nunca mais maltratar a besta do seu irmão!


Pedro Monteiro, São Paulo - SP.

Proveniência: Campo Maior, Piauí.


sexta-feira, 18 de março de 2022

PESCADOR DE ILUSÕES












Alimento na memória

divinas recordações

das instigantes vivências

e valiosas lições…

Sei que entre perdas e ganhos,

sou somatória dos sonhos

de um pescador de ilusões!

 

                             PedrO M.


ARTE E CULTURA

FLOR AMARELA

Brilho da flor amarela, num cenário multicor, a paisagem na janela sugere versos de amor.                          PedrO M.